VINTE E DUAS HORAS E VINTE E DOIS MINUTOS...

22:22h

Vinte e duas horas e vinte e dois minutos, tais algarismos teimam em permanecer naquele visor, naquele Dune teimoso e transgressor, a se impor e a penentrar em furor por meus olhos a alcançar meu cérebro, minha mente, meus pensamentos, a se interpor, a se intrometer, a alçar voos , a dar mil nuances de ideias e a matar-me a dor.

Vinte e duas e vinte e dois, de dois, de vinte e três e doze, muitos algarismos, muitos números, muitos dois, menos de dois, nem mesmo zero, somos menos que isso, completos estranhos, na cama intimamente a nos deitar sem nos tocar, sem nos beijar, sem nos falar, a mais nada trocar, nem um carinho, nem um caminho, nenhum carinho, nenhum caminho, nem um olhar, um furtivo olhar, somente lágrimas, furtivas.

Não tão longe nem tão perto dali, ali, repousa outro ser, outro corpo noutro corpo, promessa de outro alvorecer, mundo de possibilidades infinitas, planeta das possibilidades impossíveis, risíveis, agora verifico que de verdade nem uma promessa foi, foi apenas ilusão, escamação e exclamação de tantos suspiros e afagos, silenciosos e ocultos e nada cultos, profanos, intensamente profanos, a enrigecer meu membro, a levar minha seiva, a extrair-me suspiros, a entrecortar-me a respiração e a ação, momento em que penso teu nome e recito teu nome, na mente e na boca, entrecortado teu nome por meu gozo, efêmero gozo noturno ou matinal e a tolher-me de ser , a impedir-me de sequer obter uma segunda chance, um pedido de perdão, ou uma simples desculpa.

Brevemente estarão perdidas para sempre, já em parte, grande parte, diria que a melhor e a maior parte perdida está já em meu coração, faltando-me somente a parte da visão, logo após a razão e a seguir a noção, em pouco tempo a partir de outrora a contagem regressiva teve seu início, como em cabo Canaveral, dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, ZERO, fogo, fogo a queimar minhas entranhas, minhas sanhas, minha lógica ilógica, as canções, os senões, tudo em pó, vísceras e pó, e nós sem nos e sem nós.

E um dia espero não ter que explicar por que tudo veio a ter esse termo, nem a mim nem a ti nem a ninguém, pois aí não haverá como da outra vez nem uma segunda chance, nem um perdão, nenhuma chance, nenhum perdão. Nenhuma explicação.

Sem reflexão, sem motivação, apenas instinto. Puro instinto de nada mais ser, de tudo querer. De não se ver inserido mas sempre esquecido, sem contar e sem contato, subtraido por um mero idiota, mais de um diria, vários, um nobre, um pobre pórrio, um oscar de tábula redonda, por um mero bastardo, por um mero obtuso, um caso perdido, um sanguessuga, um oportunista, vinte e seis a vinte e sete vezes isso, um osmótico ser que nunca será nada sem a ajuda de seus inoportunos guias.

Cedo dela será retirado o que pensava ser seu bem maior, seu tesouro, idiotamente será transformada em bagaço e seu nome será extenuadamente divulgado entre as hordas de bárbaros que em tábuas registrarão todas as suas profanidades, em profundidade - que profundidades - em todos os flancos de seu barco, para deleite e escárnio de todos, inclusive meu, inclusive seu, inclusive teu, inclusive nosso.

E terão se passado apenas vinte e duas horas e vinte e dois minutos.

22:22h

Ou menos do que isso. Ou mais do que aquilo.

Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 24/02/2012
Reeditado em 07/04/2012
Código do texto: T3516697
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