ILLECEBRA

 Na esquina tem uma puta, velha e feia. Ah, sacrilégio! Naftalina e unha roídas, varízes e joelhos valgos. Coitada! No boteco, um bebado cheirando a mijo toma um 'Rabo de Galo'. Um cachorro sarnento lambe suas próprias 'perebas' e a noite esperneia tentando nascer. Tantas mãos espremendo o útero da noite e ele fede! Há um cheiro acre no ar... Fumaça, fuligem, fritura e urina. Um bueiro e sua boca aberta num arroto que quase ninguém escuta ou finge não escutar. Tem uma janela aberta... alguém olha aquele olhar de peixe morto e solta uma baforada - cigarro barato que fede a mofo, e depois escarra ! Tudo vindo lá do fundo... podridão encarcerada. Um carro passa. Soa uma sirene - e um grito na noite ecoa. Talvez um parto num quarto, quem sabe um estupro num beco - vá saber! Quantos ácaros em colchões imundos e sebentos mastigando suavemente a borda das  escaras. Uma criança caminha sozinha. Agacha-se, escondendo-se atrás do poste e defeca!! Sorrindo,  ela defeca. E agachada, olha pro céu e admira a lua de prata. Um olhar de anjo... um sorriso sem máculas - depois se levanta e vai embora. Isso ninguém viu. Nem mesmo eu.