Prisão Sem Muros
OU PRISÃO REEDUCATIVA
Há trinta e seis anos estou vivendo em cárcere privado.
Sofrendo a dor da incompreensão alheia, porém, amando e aprendendo.
A cadeia ensina-me a ter paciência comigo e com os outros.
Por isso não sou de fazer exigências.
A prisão na qual fui trancafiado não tem grades nem muros. Todavia, não se engane, pois sua segurança é máxima.
Não há como fugir, senão momentaneamente pelo vício.
Minha prisão limita-me os sentidos do corpo, mas em contrapartida expande os sentidos da alma.
Caiu por terra o véu que alimentava minhas mundanas ilusões.
Minha cela é quente, com sangue a correr nas veias.
Vezes incontáveis meu espírito anseia pela liberdade, mas sabe que esta só virá mediante muito trabalho.
Quantos anos ainda hei de viver nessa espera? Eu não o sei dizer.
Portanto, o melhor é esperar laborando.
Só quem um dia abusou da liberdade saberá hoje dar-lhe o justo valor.
No afã de tudo aproveitar deste mundo, acabamos por viciar a mente e o corpo.
Com a minha prisão veio o tempo precioso da reflexão.
Sim, estou retido no corpo deficiente, mas meus pensamentos são livres.
Entretanto, a solidão dói.
Quando você me vir, por favor, não se afaste, porque preciso de ti.