Uma praia. Um corpo esparramado nas areias. Um Céu.

                Lá na eternidade deste negro espaço infinito finjo ter o controle do tempo. Por vezes lento. Noutros rápido. Às vezes a distância é curta para os sentidos ou tão longa como queira que o vejamos. Mas, por certo, sempre para que ama. A noite é negra. O mar é negro. As colinas são sentinelas escuras a proteger mar e céu. Um silencioso sossego em noite calada, rompido somente com a bater intermitente das ondas do mar na areia.

                Acredito ver as estrelas que transcenderam todos os tempos. Neste, Universo, que parece ser tão real, deve haver alguma estrela de diferente brilho tão intenso a me chamar. Magnetizado, não consigo para de olhar.

                Não importa em qual dos céus mergulho o incessante pensamento. Se no infinito de meu Ser ou o daquele sem fronteira e sideral. Neste Universo, que parece tão real, deve haver, sim, uma estrela de brilho tão intenso e diferente a me chamar. Mas, uma estrela especial há de existir. Uma paixão por uma estrela. Se fosse, ainda, capaz de desenvolver uma paixão arrebatadora por alguém ou por Estrela poderia acreditar que Ela fosse um ser perfeito, incrivelmente belo. Teria Nela um universo para desvendar infindáveis descobertas. Seria então tomado por emoções arrebatadoras, quase patológicas. Fascinado, perderia a individualidade, a identidade, o raciocínio lógico.

                Agora, neste exato instante, fracionado em milésimos de segundos, estirado sob a refrescante colcha de areia, fitando o debruado prateado do céu, principio a sentir a invasão desta paixão se aproximar. Roubando-me a individualidade, a identidade, o raciocínio lógico e real. Torno-me escravo dela, fantasiando libidinagens, iluminado pelo brilho imaginário, intenso e diferente a me chamar. Cresce uma paixão que antevê a Estrela incrivelmente bela e envolvida por incontidos mistérios. Descortinando para mim um universo e me oferecendo infindáveis descobertas.  

                Algumas intrometidas nuvens, por hora, ofuscam o tapete estelar. Um véu que envolve integralmente esta paixão. Aumenta meu desejo.  E, desejo é desejo. Em qualquer lugar. Um verdadeiro desejo o Sol não pode secar. A onda do mar não consegue levar. O vento é impotente para carregar. Agora tenho um desejo.

                O Plâncton agitado repete no mar o extasiante brilho de trilhões de estrelas. Como que o Universo estivesse se banhando neste negro mar. Até a Lua, solta a flutuar, permitia que seu facho de prata bailasse sobre as ondas, no vai vem da Maré.

                Nesta noite, imerso em tanta beleza, fiz uma promessa, um pacto com o Universo. O de desvendar seus mistérios e, se possível for, encontrar na Via Estelar uma estrela de diferente brilho tão intenso a me chamar.

                Não sei o por que. Porém, uma fisgada, como se fora atingido por um raio estelar, me feriu o peito. Sensação de medo. Um inconsciente aperto. Todavia, às vezes é necessário superar a dor para conhecer a realidade que nos cerca.

                A dificuldade estava no sentir, distinguir, perceber a verdade escondida, encoberta, pelo manto escuro do Universo. Duas atitudes a tomar de imediato. Primeiro, ficar calmo, sereno como a noite. Evitar o medo, o receio e a apreensão. Segundo, confiar nas forças dos Universos. O do meu Universo de meu Ser e no do Sideral. Eliminando, se possível, qualquer possibilidade de temor, pavor ou covardia. Assim é a ordem para que o equilíbrio cósmico se mantenha.


                 Neste ínfimo e decisivo lapso temporal a vida desfilou na tela de meu universo invadindo os sentidos. Uma doce sensação, quente e sedutora fez sorrir minha alma acalentada pela magia cintilante das estrelas. Eram incontáveis tufos de diamantes derramados aleatoriamente sobre o veludo de cor negra que cobria o Universo. Por instante, me senti intocável em minha felicidade. De tão bêbado não desejava retornar a sobriedade. Nem, tão pouco, sair daquele êxtase e perder momentos de tão rara inteiração. Senti o véu da brisa noturna acariciar minha pela. Escutei cânticos das marolas do mar, que ao beijar as areias da praia entoavam versos à liberdade e redenção à vida.

                Como emergir desta imersão, submersão e retornar a normalidade na manhã que se aproxima?

                Como voltar incólume, intato, à tona após ES profundo mergulho nos dois Universos numa noite debruada de estrelas?

                Desejava ter um tempo, pequeno que fosse sob o banho matinal do chuveiro dos raios dourados do Sol para me recuperar. Deixar morrer um pouco aquela paixão insana pela Estrela perfeita e igualmente bela para retornar às pessoas e à nervosa cidade.

                entretanto, seria um fraco se apenas condenasse todos os nossos comportamentos insensatos, estúpidos, risíveis que feriram o equilíbrio micro-mascro deste Mundo ímã.

                E agora? Que meu coração desenvolveu uma paixão arrebatadora pela Estrela imaginária, perfeita, incrivelmente bela. Tendo nela o Universo para desvendar infindáveis descobertas. Como fico? Assim, tomado por emoções cativantes, quase patológicas. Permanecendo fascinado por ela que me roubou a individualidade, a identidade, o raciocínio lógico nesta noite intrigante.

                 O que pensar de mim? Nada. Simplesmente nada. Mesmo que, ainda, não tenha acordado para a manhã de Sol parido. Passei a conversar, mentalmente, com alguém do Universo. Certamente um arquiteto supremo que tão habilmente projetou e edificou obra tão magnífica. Então, desfiei todas as desculpas indesculpáveis. Meu Mundo recente os efeitos do nosso desequilíbrio.

                 Algo me soprou, aos sentidos da alma, o significado mais profundo de amor.  E, percebi que o amor, tanto quanto a dor tende a diminuir e, imediatamente, ser substituído por algo novo para que seja restabelecido um novo equilíbrio.

                 Quanto mais longe viajava na velocidade do pensamento, menos falta sentia do ontem e penetrava nos antigos e novos jogos da vida.
                Percebi, no aconchego do colo da natureza mãe, o quanto diminuto é meu território. E quanto era tímida a visão de como o todo se encaixava. Eu, a praia, o Universo. Tudo conectado. Todos jogando o mesmo jogo do equilíbrio cósmico.

                Ali sentado, escondido, camuflado embaixo da manta do céu, aperfeiçoava a visão noturna. A cada instante, momento, nesta ilusão ótica, aparecia mais e mais estrelas que escorregavam de dentro do útero do Universo.  

               Percebi naquela pseuda escuridão, que não necessitava ajuda de qualquer objeto que fosse para enxergar tão bela, excitante e deslumbrante realidade.

                Permanecia jogado na areia e em movimento estático, namorando o Céu que naturalmente cuspia estrelas. Com os olhos abertos da alma percebia que não significavam nada quaisquer problemas que tivesse na vida.

                Desejava apenas absorver toda aquela energia cósmica. Senti-la para compreender as verdades escondidas. Nem que para isto tivesse esse pouco momento cronológico, mas que eterno. Só isto. Nada mais que isto. Necessário ver com a alma, sentir o momento. Assombra-me com os dois Universos para manter e reforçar os valores dignos e significativos da vida.

                O Fim de noite se aproximava e dizia que era o momento para recolher os pedaços dos pensamentos.

                Mais uma vez, algo me soprou, aos sentidos da alma. Quem sabe a voz onipresente do arquiteto destes dois Universos me dizer. A regra é o progresso constante. No embate da ação e da reação impera a lei de causa e efeito.

                Ali na praia e penetrando no Universo não encontrei a Estrela que acreditaria ser perfeita e incrivelmente bela. E, por Ela teria uma paixão arrebatador.

               Percebi o encontro dos Universos Paralelos. 











                                                            
Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 18/02/2012
Reeditado em 02/12/2015
Código do texto: T3507176
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.