O menino e a rua...

Tenho pena do menino que passa, olhar vazio perdido em mais vazios horizontes.Sinto tristeza pelo fardo que carrega em seus ombros, a existência lhe dói...Pesadelo ambulante, farrapo humano,retrato da dor.

Desenhou o destino em nuvens,fez castelo na beira do mar,refúgio ao vento.Rejeito de todos. Sem colo,sem peito, sem canção de ninar.

Agacha-se a procura do que não perdeu, recolhe sobras do que ninguém lhe deu!Lambe suas feridas, remói sua sina.Sem abraços, sem afagos, sem calor...Ave sem ninho, aborto em tempo incerto,um rosto na multidão.Tenho saudade do adulto que não virá, da criança perdida...Sem história, sem passado,sem presente,sem presentes, sem futuro...Do menino que é número nos anais dos fortes, sem túmulo, sem epitáfio,sem sorte...Onipresente em calçadas becos praças e ruas...Vergonha nua, amor em traje a rigor.Acende o sol, apaga a lua...Menino sem berço, sem nome,menino de rua...Chuta latas, vira latas, bebe em latas,cata latas, em latas enlouquece...Numa noite é caçador, em outra,caça...Delira em viagens procurando a vida,fugindo da dor.Tenho pena do menino sozinho, que faz seu caminho sem nada, sem rumo, sem volta!