A minha terra do nunca.

Acho que tenho procurado um pai.Não que não tenha a atenção do meu, mas é que às vezes, ele não pode ser o que preciso.

Preciso é de deitar a cabeça no ombro de alguém, talvez dormir, talvez chorar, talvez sorrir.Talvez desabafar.

Preciso é ser cuidada.

Que me carreguem do sofá para a cama, quando eu cair no sono.

Que passeiem comigo num parque, num museu, num lugar qualquer.

Que me alimentem, que me deixem ser criança, sem ser induzida a preocupações e verdades adultas.

É esse o destino de crianças que foram obrigadas a crescer antes da hora.Conviver diariamente com realidades que não cabem em suas mentes, verdades incompreensíveis, decisões que não cabem à elas, verdades que não deveríam nem ser mencionadas em respeito à sua pouca idade.

Mas os adultos às vezes se esquecem do valor da inocência.

Sempre tive meu pai, mas não tive o direito de ser criança, não ao seu lado.Ele foi embora cedo demais...

Qualquer gripe, gerava uma nova briga, uma nova sessão de julgamentos e exigências...Novas audiências, visitas demoradas à advogados.

Então aprendi a não adoecer, a não brincar, a abandonar tardes de domingo no parque, a evitar ao máximo ser cuidada.

O meu tempo com ele era dividido em sábados e pequenos minutos na porta de casa.Ele não podia entrar.

Aprendi a não esperar presentes na árvore de natal e nem ceias fartas de felicidade.O natal sumiu do meu calendário.E com ele também os aniversários, a páscoa, o dia das crianças, as férias...

Minha infância foi dolorosamente interrompida.Mas confesso que ela não deixou de existir.Às vezes ainda tenho a sensação de ser pequena, às vezes me sinto até imprópria para maiores de dezoito anos.Às vezes me deparo com uma inocência forçada, que não tem mais que ser minha, mas que eu continuo cultivando.

Há dias em que ainda espero pelos brigadeiros que meu pai trazia todas as tardes, depois do trabalho.Ainda acho que ele vai me pendurar nas suas costas e me levar ao circo.

Mas logo disfarço, e então, volto a vestir minha máscara de adulta.

Lara Monique
Enviado por Lara Monique em 16/02/2012
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