CARNAVÁLIA DO LIRISMO COMUM ! capitulo I

CARNAVÁLIA DO LIRISMO COMUM

Capítulo I

Zunzunzun, o comentário geral, fazia de Uirapuru das Palmeiras Sabiá, um cara completamente diferente. Uns diziam que era porque ele viajava muito, outros, porque era poeta, a grande maioria o julgava louco, e muitos achavam que tanto uma coisa como outra, dava na mesma!

Seu nome, aliás, caso ninguém tenha notado, era uma verdadeira apologia à fauna e a flora, uma verdadeira apoteose ecológica, que de forma alguma se adequava a um poeta.

Às vezes, ele saia do ar e caminhava por entre as alamedas dos jardins dos sonhos, gozando do privilégio de perder-se no espaço, esquecendo os canteiros de pedra e aço, embriagado pelo perfume das rosas poluídas, tropeçando nos pedaços prateados de luar, e vivendo a ilusão de estar livre das garras douradas da imaginação!

E ele se sentia um homem das cavernas no berço da humanidade, no espanto da descoberta, no auge da transição, perdido na forma da roda, no brilho do fogo, vendo a pedra lascada ser polida no grito da evolução! Nas areias do deserto, ele admirava as faraônicas e maravilhosas pedras das tais pirâmides, nas terras orientais as pedras de olhos puxados feito atentas sentinelas da tal Muralha da China!

Protagonistas do orgulho, da inveja, da cobiça, objeto dos desejos, vislumbrava de relance as tais pedras preciosas, captava as emoções dos barrocos sentimentos na matéria prima do artista, mineiras pedras sabão! Sorria ante a polemica do modernismo do poeta, e via a tal pedra do caminho virar pedra no sapato dos fiéis conservadores.

E a conquista tecnológica enfim desbravara o espaço, provando não ser de prata, nem de ouro, nem de lata, ou de inoxidável aço, aquela tal pedra da lua! Curtia a brilhante transparência da pedra de gelo no drinque, feliz dançando no copo, ouvias as canções que embalavam corações, - rolantes pedras do rock -!

E o seu amigo do peito, que era Pedra Noventa, sobre a pauta do assunto, muito educadamente, queria sempre colocar uma pedra de caráter educativo, pois sabia ele que neste mundo, até as pedras se encontram, difícil mesmo é encontrar quem não tenha telhado de vidro, e atire a primeira pedra!

Nessas ocasiões ele dava soco em ponta de faca, navegava contra a maré a bordo de um barco furado, dava nó de pingo d´água em marinheiro de primeira viagem, e como vendaval não é garôa, matava as nuvens no peito e arriava a bandeira que era pra não pisar na bola! Quando a noite era clara ele passava horas e horas contemplando a imensidão.

Berimbau lhe fazia companhia. Berimbau sabia de todas e não transava nenhuma, lia Neruda, Tarzan, Drumonnds, Turma da Mônica, Pato Donald, Baudelaire, Zé Carioca e Paulo Coelho. Não perdia o Castelo Ratimbum, morria de saudade da mancha da perna da Angélica, desfilava na ala dos passistas do Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Unidos das Ilusórias Ilusões, e parecia sultão de um harém de coelhinhas da Playboy.

Não acreditava em farol de trânsito depois da meia noite, muito menos em faixa de pedestres ou em pagamento de direitos autorais!

- Veja Berimbau, que coisa mais linda as borboletas em vôo rasante por sobre as flores dos jardins da galáxia! Veja !

Berimbau olhava e fingia acreditar, afinal ele era o amigo Pedra Noventa, e amigo é pra essas e outras coisas! Mas o que realmente encantava Berimbau e o fazia arregalar os olhos, era a lua, que a menina apaixonada pensava ser de prata, ao passo que ele estava crente que a lua era um enorme queijo pendurado no índigo blue do infinito. E então ele pensava tristonho:

-Ah! Se eu fosse um ratonauta !

Mas os ratos cientistas estavam muito grilados com a explosão ratográfica, e não tinham tempo pra inventar a ratonave! Uirapuru adorava os animais, tanto que nas touradas e nos rodeios, torcia pelo touro! Encantava-se com o canto dos pássaros, (talvez fosse mal de família), com as águas livres e cristalinas dos rios, e com as andorinhas desfilando em seu traje a rigor, como se fossem assistir ao Pavarotti no Municipal.

Certa vez, sentado na branca areia da Praia dos Sonhos Dourados, que tinha esse nome devido ao magnífico show verpertino produzido pela mãe natureza, protagonizado pelo astro-rei (o pessoal do Estadão diz que é lugar comum), tendo como coadjuvante as ondas espumantes, ele viu o azul na distância pensando:

- Mas qual é a da natureza ? Será que ali o céu inicia, ou quem sabe, termina o mar ?

Isso ele não poderia dizer, também não era preciso se saber de tudo, às vezes ele achava até que o melhor era não se saber de nada, por isso, ele não sabia se o mar levara os seus sonhos, ou se eles lhes haviam fugido voando nas asas do seu próprio pensamento ! Ele só sabia era da paz daquele momento, e do imenso vazio que lhe enchia a alma e o coração.

E por não saber de nada ele caminhou pelas nuvens, e dos seus olhos de estrelas, rolaram cristalinas gotas de luar!

antonio carlos de paula

poeta e compositor

AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 17/01/2007
Reeditado em 14/01/2010
Código do texto: T350071
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