[Choferando com Jeito]

[Onde eu não lembro, eu remendo, eu ponho pano novinho, novinho, e de retalho em retalho, eu teço o meu mundo velho]

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Ao que me lembro, era um tempo assim:

o lamaçal... o calor de janeiro sufocava,

o cheiro de mato verde masgaiado nos pneus recendia,

o corgo cheio, quase querendo levar o pontilhão,

e nos barrancos, o gado assuntando a correnteza,

sem achar onde tinha sido o vau!

Tudo perigando, mas a gente tinha que ir —

remédios urgentes para o filho do vaqueiro,

o sal grosso e as vacinas para o gado —,

num dava nem para pernoitar

na casa grande lá do arraial —

tínhamos de chegar, chegar ainda hoje!

Mas aí... ah, conto a lição aprendida para o meu viver:

... por que a vida é sempre à frente, é travessia,

mais importante que rusgar, maldar atitudes e falas,

é passar... passar pelos atoleiros, sem ladear,

e depois do alívio de passar, é só gritar: "Ó, cê viu?!"

"Vai choferando com calma, cumpade,

e cuidado com aquele barro mais fundo,

chofera com jeito, que cê passa e acha a firmeza!"

Conselho que ouvi há muito tempo,

aviso de gente que conhece de ladeadas na vida

[mineiro num escorrega, mineiro ladeia!]

e acha firmezas, do outro lado do sofrimento!

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[Desterro, 13 de fevereiro de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/02/2012
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