[Choferando com Jeito]
[Onde eu não lembro, eu remendo, eu ponho pano novinho, novinho, e de retalho em retalho, eu teço o meu mundo velho]
__________________________________
Ao que me lembro, era um tempo assim:
o lamaçal... o calor de janeiro sufocava,
o cheiro de mato verde masgaiado nos pneus recendia,
o corgo cheio, quase querendo levar o pontilhão,
e nos barrancos, o gado assuntando a correnteza,
sem achar onde tinha sido o vau!
Tudo perigando, mas a gente tinha que ir —
remédios urgentes para o filho do vaqueiro,
o sal grosso e as vacinas para o gado —,
num dava nem para pernoitar
na casa grande lá do arraial —
tínhamos de chegar, chegar ainda hoje!
Mas aí... ah, conto a lição aprendida para o meu viver:
... por que a vida é sempre à frente, é travessia,
mais importante que rusgar, maldar atitudes e falas,
é passar... passar pelos atoleiros, sem ladear,
e depois do alívio de passar, é só gritar: "Ó, cê viu?!"
"Vai choferando com calma, cumpade,
e cuidado com aquele barro mais fundo,
chofera com jeito, que cê passa e acha a firmeza!"
Conselho que ouvi há muito tempo,
aviso de gente que conhece de ladeadas na vida
[mineiro num escorrega, mineiro ladeia!]
e acha firmezas, do outro lado do sofrimento!
___________
[Desterro, 13 de fevereiro de 2012]