Último Aniversário
Havia algo naquele ritual que eu tinha sinceramente deixado escapar por entre o meu par de olhos abertos não tão atenciosamente assim. Com certeza havia alguma palavra ou idéia lexical cuja minha psique não tinha aceitado como completamente verdadeira ou existente para que todos estivessem ali comemorando algo que eu julgava quase tão banal quanto o revolver da própria Terra em torno de seu eixo no movimento diário e geológico natural.
Porque estavam todos felizes por eu ter ficado mais velho? Não poderiamos, por acaso, comemorar outra coisa que fosse talvez um pouquinho menos mórbida do que reconheçer que hoje se chegou um pouquinho mais perto do túmulo processual chamado carinhosamente de “terceira idade”?
Quando percebi que não tinha comprado as velas certas para o bolo eu me questionei se teria sido útil estudar tanto tantas artes diferentes se hoje não consigo ter independência nem para comprar o número certo de velas que teria de pôr no meu bolo.
Somente depois fui entender que aquilo não era feliz e as pessoas que sorriam para mim na mesa de jantar não estavam necessariamente satisfeitas mas sim, por falta de termo melhor, “sociáveis”.
Então, por ter entendido o que a familia queria de mim: que eu brincasse com eles de ser feliz para que ninguém tivesse de chorar a minha internação no asilo cujo termo só poderia ser visto como longe se meus olhos mentissem para a face que os carregam.
Mas não me entristeci, sorri...e continuei com aquela farsa...