O AUTISTA, O PAI E A ESCURIDÃO DA DISGRAFIA
O AUTISTA, O PAI E A ESCURIDÃO DA DISGRAFIA
silvania mendonça almeida margarida
bhz, 11 de fevereiro de 2012.
O autista não consegue
escrever disse seu pai
Se ele soubesse,
talvez pudesse
se comunicar conosco
Escreveria, mesmo sem
falar frases completas
Usaria lápis e giz de cera
em todos os seus dias de sol...
O meu filho autista
não consegue escrever,
entabulou seu pai
Seria tão diferente
se ele pudesse ter sua letra
Fico a imaginar e até a sonhar
Como seria interessante
se sua escrita fosse constante
Escreveria pequenos poemas
de pais e mães
Colocaria cores em suas
gravuras e rabiscos
Mediria as margens do caderno e
faria matrículas em
todas as escolas
que se negam em acreditar
do que ele seja capaz
O pai proclamou:
Como seria bom
Se ele soubesse
escrever emoções
Diria ao vento que
tudo está frio
E que ele deixasse
quieto o papel
Diria aos acasos
que fossem cadentes
E os pintaria de cores
amarelas luminosas
O pai do autista afirmou:
Desenharia gravatas
e ternos em dias executivos
Remodelaria
os desenhos antigos
E faria novos gols
em todas as traves do campo verde
Verificaria se o time venceu
E escreveria: "Campeão"
nos seus cadernos de aula
E o pai do autista declarou mais:
Saberia pintar as paisagens do mundo
Colocaria para as gentes o seu pensamento
E saberíamos que ele sabe de tudo
o que se passa ao seu redor
Tudo o que quer saber e finge não temer
Ele é inteligente entre dois mundos
Ele é meigo entre dois espaços
Ele é autista entre o lápis e o papel
E o pai findou sua conversa:
Como seria bom se ele escrevesse
Uma palavra, uma frase, uma letra,
E fosse copilando as suas estrelas
Que mostrasse ao mundo
a sua passagem
Pelas estações do ano...
“Aprender com as primaveras
A deixar-se cortar e voltar
Sempre inteiro”
E escrever ao pai em letras garrafais:
"conseguiram me alfabetizar e
me mostrar como se escreve “grande”"
"Amo você, amo você para sempre, meu pai!"
E o pai sussurrou cabisbaixo:
"Quem sabe um dia, quem sabe!