Carta do homem do manto ao amor sem futuro
Sinto que voltou ao alcance próximo
de minha sedenta mão febria
mas não ouço o telefone tocar como
era o prometido por teus lábios
e cá estou em tal doentia noite a
registrar a rejeição que deste ao meu amor
tão febril quanto eu
Enquanto pensas na desculpa a contar
as velas queimam e a cera escorre...
sendo que somente a fumaça é
capaz de atravessar este meu manto negro
onde guardo meu ódio e meu lamento
onde sou prisioneiro de mim mesmo
meu próprio detento.
A tinta atinge este papel tão tóxico quanto
a minha chama, enquanto você,
minha indecisa dama,
deve estar enrolada por entre confortáveis
lençóis vermelhos, da mais impura e confortável das camas.
As sombras se contorcem como dançarinas
graças à dança da chama que derrete a cera
enquanto ainda me ponho a escrever
qualquer besteira, para receber ingratidão
A rosa morta, jaz ao meu lado direito,
já não produz mais belo cheiro,
apenas está morta e apontando o chão
ó estranha prova de amor, febril como o meu
próprio que lhe confesso e quando
jazes podre embaixo da terra espero
de tão indeciso ser, que rejeita meu amor
e desafia o meu saber
roubar uma ultima lágrima salgada, sobre a lápide maldita
desta pobre alma
mal amada