QUANDO O POVO SE CANSA
E a grande torre foi abalada,
às portas do grande salão,
vozes indignadas gritam por justiça.
E o rei,
que não cede ao sofrimento que causa,
chama a guarda obediente e cega.
É o alarido do vozerio que estampa
e denuncia a horrenda cena,
corpos aos montes são vistos
e viúvas choram pelos maridos insepultos.
O que dizer?
E o rei,
que não cede ao sofrimento que causa,
esconde-se nos aposentos, seguido de
bajuladores servis.
E lá,
onde a terra já não brota o alimento,
negocia-se na bolsa o preço mais rentável
e multidões perambulam pelas ruas
e chafurdam latões à beira de calçadas e avenidas,
e vão engrossar filas de moribundos urbanos.
E o rei,
que não cede ao sofrimento que causa,
vai a teve e promete planos mirabolantes,
mas ignora a realidade à olhos vistos,
porque não se reconhece igual aqueles.
E o povo,
que já não reconhece o rei,
levantará bandeiras e fará avanços.
E aquele que jamais imaginara tamanha desfaçatez,
fugirá,
pois, quando o povo tomar às mãos seu destino,
não existirá exército que o derrube.