Súplica a Érato

Ah, sobre o que escrever? Hoje as palavras se fazem de rogadas e fogem de mim, não se apresentam com a solicitude de sempre, não se jogam de encontro a minha mente, pedindo, implorando até, para serem usadas; sinto exatamente o contrário, de mim elas fogem, deixando a minha súplica perdida nos ecos do tempo e espaço, solitária e isolada de tudo.

Sei que a Musa Inspiradora é mulher cheia de vontades, e que presenteia com seus dons aqueles de quem se agrada, assim como a Deusa da Oportunidade, que, por sinal, é uma linda careca, dona de uma franja enorme, por que a oportunidade, quando chega, só se deixa agarrar de frente. Érato, doce e sublime Érato, tu que és a regente do lirismo, portadora da Lira, cuja melodia embala e inspira, acalenta e fascina, olhai pra mim, seu servo, abençoa-me, mais uma vez, com seus encantos e prazeres; dá-me a percepção e magia para construir novas rimas, transliterar sentimentos em palavras, conotar com emoção versos e trovas, fazer com que se espalhe tudo o que representas, oh Èrato.

Deixa-me caminhar pelo Museion, seu lar e morada, Érato, por seu templo de maravilhas e gozos, permita-me descobrir os segredos de suas 8 irmãs, guia-me por entre segredos e mistérios, livra-me das amarras que me prendem ao estado da cegueira e ignorância, e toca-me eternamente com a sua graça e sua benção, fazei de mim o seu mais dedicado servo, eleva-me o espírito e incendeia minh’alma, ó Musa!