A MORTE DA CIGARRA.
Chagaspires
Sentindo que estava perto seu fim; a cigarra voou sem rumo certo, indo cair esparramada em um prédio das cercanias.
Ali no patamar da escada, a cigarra agonizava.
Quanta ironia! Ela que havia passado seus dias a cantar entre as árvores do entorno, foi justamente em um emaranhado de concretos que estava terminando sua curta temporada nesta vida.
Vendo o pouco tempo que lhe restava a pequena criatura passou a lembrar das tardes fagueiras onde foi sempre à primeira em alegrar com seu cantar sonoro o parque florido.
Lembrou de seus vôos entre as árvores frondosas; da velha fonte com seus esguichos, das pessoas que ali passavam, dos pássaros que trinavam, do céu azul e das noites de chuvas, onde por sob as folhas do velho cajueiro se abrigava da intempérie.
Tudo parecia tão distante que a pobre cigarra não sabia se fora sonho ou realidade.
De repente seus olhos ficaram hirtos e num esforço sobre humano tentou iniciar um canto sonoro, porém o som morreu em sua garganta, e ela então chegou ao fim.
Pela manhã o zelador ao varrer a escada, juntou toda sujeira, e com ela os restos mortais da pobre cigarra que foi sepultada sem nenhuma honra em uma velha lata de lixo, e nem sequer teve alguém que cantasse para ela uma marcha fúnebre.