UM PRELÚDIO DE AMOR

Como está a acontecer ultimamente, eu estava à tua espera. Engraçado é que, mesmo eu estando ali para poder te recepcionar, quando tu chegaste, eu não te vi. Passaste por mim indo direto para o teu lugar de destaque, sem nem ao menos notares a minha presença – claro! E a mim, mesmo ansioso pela tua chegada, passou despercebida a tua presença primeira no local.

Porém, o destino, quando ele quer, torna-se cúmplice e trama armadilhas para que os interesses do coração sejam, todos eles, completados numa mesma cena – apenas uma de cada vez. Um olhar, talvez; um cumprimento casual, em que o gesto se torna um código; uma saudação feita através de uma cortesia, mas que preenche os requisitos de algo que nasce sem nem mesmo compreendermos muito bem; enfim, quando há empatia entre os sexos opostos, há, também, uma atração natural diferenciada pela química que aflora e impele um para o outro.

E foi assim mesmo. Vieste lá de cima, do mais alto dos destaques, e chegaste a mim, naturalmente, lindamente sorridente, agradavelmente educada e me cumprimentaste, pela segunda vez. Desta vez, não com o olhar, mas com a afabilidade dos teus lábios junto a minha pele do rosto. Inebriante o teu perfume. Um momento de confusão para os sentidos, no qual o desejo se misturou, rapidamente, com o senso de apenas cumprir um protocolo, uma formalidade, uma etiqueta pública.

Breves momentos. É preciso, infelizmente, que sejam assim. Atravessaste, com passos cadenciados, o espaço que nos unia, naquele momento, distanciando-te de mim, à busca de novos espaços obrigatórios em tuas andanças. Os meus passos não mais te alcançavam, mas, eu, insistentemente, implorava por um último olhar, um discreto aceno ou um gesto que me permitisse sonhar mais tempo com aquela cena. Enquanto eras cumprimentada, pela trilha que te levaria para longe de mim, eu admirava a tua esplêndida desenvoltura e elegância no caminhar. Perfeita!

Partiste. Assim como chegaste, o teu tempo entre nós foi breve. Na última cena de um ato, o véu da distância começou a tomar corpo entre nós.

Saíste como entraste: como uma estrela que brilha intensamente e que precisa, por isso mesmo, brilhar em diversos lugares. Partiste para outros universos, para que a chama magnífica de tua presença possa agraciar quem mais precisa de uma energia do bem.

Eu fiquei sorrindo, comigo mesmo, a lembrar desses breves encontros contingenciais, mas que, somados a outros tantos encontros casuais, causam-me frenesis que dão a dimensão do prazer de estar contigo no mesmo tempo e espaço, como este agora.

É sempre assim... Um breve olhar que passa deixando um quê de nostalgia no meu olhar; um olhar que fica a admirar o olhar que passa e transmite o mesmo olhar de melancolia. Dois olhares e uma despedida, breve, alheios ao mesmo tempo e espaço, neste conciso olhar de cumplicidade. É sempre assim...



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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 05/02/2012
Reeditado em 17/09/2014
Código do texto: T3481735
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