[Traços: Ela no Meu Horizonte]

Entardece no parque. Contra o imaginário de um horizonte, esboçam-se aos meus olhos duas longilíneas figuras quase evanescentes. Vejo apenas partes dos seus corpos que se afastam de mim, e se afastam cada vez mais rapidamente... quase correm!

Desconfio dos objetos insubstanciais que os meus olhos riscam no ar vazio: são traços, rabiscos, esboços de fêmeas formas? Traços no campo da minha visão que logo não serão mais, ou serão apenas marcas de volições, devaneios aéreos, quase febris...

Logo, a noite cairá lenta, fria... e tudo que busco se desfaz no ar, ou se resume em traços vagos que nunca, nunca poderiam ser portadores de meus sonhos. São apenas traços da caneta da minha imaginação, ânsias de escrever um poema que eu pudesse oferecer à insubstancial mulher da esquerda, aquela de cabelos longos, amarrados para trás...

Ridiculamente, eu penso, eu sonho que se ela soubesse de mim, ela deteria sua rápida caminhada só para ler-me. E pergunto: que mal há em ser mais uma vez ridículo na vida, eu que o fui tantas vezes?

Mas ela não sabe de mim, não me sonha, e portanto, não me busca... e ainda que ela me buscasse, o que encontraria além de solidão, ou da sua própria solidão? E afinal, quem é ela? Nada, ninguém que eu possa tocar com as mãos; apenas um risco no imaginário do meu horizonte... eu mesmo não passo de um risco do imaginário de alguém... Eu sou apto a perder-me em horizontes imaginários ou não!

[Desterro, 30 de janeiro de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 02/02/2012
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