Funeral
Entregaram-lhe envolto em sedas e cheiro de bálsamo. O mesmo ranger de portas enferrujadas e cadeados de séculos atras, fora ouvido ali, naquele silêncio com pios de coruja. Mau agouro?
Era só esperar. Acendeu mais um charuto e as baforadas levaram-lhe ao calabouço da mente, Não sentia dor, estranho isso. Sua cabeça havia rolado ladeira abaixo e os gritos alucinantes ainda ardiam em seus ouvidos: Matem-no, degolem-no!
Quanto tempo se passara? o que o mantinha preso a esses pensamentos difusos? Quisera sair dali, daquele calabouço, mas as correntes envolvidas em seu corpo (corpo?) não permitia. Quantos espetáculos dantescos assistira nesse tempo...choros, convulsões, fingimentos, pragas, maldições.
Firma sua visão desprovida de órbitas e a cena, a mesma cena já vivida, começa a se formar. De minúsculos orifícios eles saem e buscando o melhor ângulo começam a degustar esse banquete com cheiro de bálsamo.
Mais um charuto e o cansaço da mesmice fê-lo dormir pela eternidade.