QUEM ÉS TU MULHER?
Sangras-te dias sem parar
Sem perder a vida...
Carregas-te na própria veste
A prole humana...
Capaz de vomitar pelas entranhas
Parte de ti...
Alimentas-te ao peito
Os quase fetos, prestes a tornarem-se sujeitos...
Se tinhas fome,
Teu pirão não era o primeiro...
Varas-tes as madrugadas a zelar por tuas crias
Nas horas de insônia...
Desnudasses a vaidade a gestar
Vários homens...
Me carregas-te em teus braços
Quando meu cansaço
Implorava teu colo...
Quando já mais tarde,
Cansada da idade,
Embranqueceram-se os fiapos de teus cabelos...
Esquecida pelos homens
Adoeces-te a carne...
Agora,
Em teu leito, depois de tantos atos
Despede-se da vida...
Deixando-me em saudades
Dos tempos em que acalantavas
Em tuas preces
Meus sonhos de criança...
Quem tu és?
Ser que me deu a vida
E hoje me convida a abraçar-te...
Como se em cada abraço
Estivesses anunciando a partida?