OLHOS FERIDOS.

 

 

 

Eu gostaria que os meus olhos fossem duros e frios, e que ferissem profundamente dentro do teu coração.

E que, para desgosto teu nada expressasse dos meus desejos e nem dos meus sonhos vazios.

Eu acho que isso eles não farão, pois para essa vingança fria eles não se prestarão.

Eles são cândidos e bons, às vezes tristes, pois eu os achei órfãos numa janela perdida do mundo.

E agora nada mais sei, só sei que eles assim passaram a te ver como uma transitória estátua que só me trouxe dores.

Meus olhos irão ferir os teus olhos, para que tu sintas a dor dos olhos meus.

Depois da tua partida, os meus olhos voltaram a ser tristes, não que eu assim os queira, é que para desgosto meu o coração assim os veste e nessa tristeza te verão doravante para todo o sempre.

Ah como me dói os dias, porque eu não sei se tu foste esperança ou ilusão.

Feriste os meus olhos e a minha visão encurtou para o mundo.

E esses dias que se repetem sempre iguais, por certo, serão sempre indecifráveis a todos os profanos.

Pois Minha Cara Senhora, do fundo e do suave azul, da tranqüila safira que dormia em teus olhos, foste incapaz de ver os pesares humanos, o amor e a alegria de viver.

Nem pau, nem pedra, montanha ou nave, será capaz de remover as lembranças dos transitórios sonhos vividos.

Ó temerosa! Pensei que houvera ferido os teus olhos!

Ó silenciosa! Desprende-se uma gaivota do horizonte rente ao mar!

Ó orgulhosa! Estátua oca e fria, insensível e teimosa.

 

Só tu não vens!

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 14/01/2007
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