PORTEIRAS DE SOL EM VEREDAS DE JASMIM
As porteiras da minha infância tinham um gosto de sol. E cavalos dormindo ao relento. Asas de chuva abraçavam arco-íris. Haviam carneiros brincando de nuvem pelo céu. E uma tristeza que soprava feito brisa dourando a relva. Os capins da estrada ardiam nos pendões se desfazendo em saudades. De coisas que até hoje não sei. Me lembro que havia um rio. Uma canoa de estrelas, um remo de nada. Por detrás dos pensamentos uma montanha abrigava meus medos. Onde pássaros de luz chocavam seus ninhos. E iam dormir prantos irisados em silêncios de girassol. Ouço a cor do vento. Um tempero azul debulha o milho das tardes. Sou feito de espanto.
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Afino os cantos da araponga em bigornas de prata, nos piados do mutum. Sou gato de botas, o sapo das lendas. Memória de gaiola quebrada. Asa liberta, libelinha, lavadeira, lava-bunda de brejo. Pirilampo, mosquito elétrico, o raio da silibrina, vaga-lume de invernada. Tudo isso e muito menos sou. Um pó assim de quase nada. Mas que sabe a poema engolindo uma vida inteira. E comendo a poeira e lambendo o pé da estrada.
(José de Castro – 28 jan 2012)