DESTAS CHUVAS QUE NÃO CESSAM
“...E quando vinham as tempestades,duas facetas daquela mulher conflitavam-se.Metade sensível:temia.A outra metade,admirava raios e trovões.”
"MEMÓRIAS DE VÓ MARIA"
Força de ventos batendo janelas
Balidos aflitos de cabras medrosas
Buscando refúgio na “casa do forno”
Cotovelo magrinho apoiado em soleira
Na concha das mãos irriquieto semblante
Um “não sei quê” balindo no peito
Buscando refúgio na aldeia da alma.
Núvens em paredão,coriscos,trovões...
Sobras de minuano rasgando coxilhas
Truculência selvagem varando araucárias
Braços franzinos lançando ao espaço
Soledades em campos de ventos varridos
Trinando lamentos de ninhos desfeitos
Num rasgo de brumas,curucacas em bando.
Preso à soleira, um vulto feminino
[ em transe]
Dividido:
Na metade sensível: fragilidade,temor...
Varando-lhe os cabelos: floradas de agosto.
Varando-lhe a alma : a visão dos pereirais.
Na porção agreste: admiração!
Varando-lhe o imaginário: florestas escuras,aldeias,turbilhões,danças ,pajelanças...
[Nunca vistas,jamais percorridas...]
Araigadas ,entretanto, ao sangue bugre latejando-lhe às veias.
Chuva caindo na tarde de agosto. Riacho bufando, cerca de arame,afogando em silêncio...encharcados gerânios ao redor da casa.
Pingos tamborinando...Pureza das águas benzendo telhados...
Bezerros lamentando aos berros o abandono barrento dos currais.
Vacas,agoniadas,respondendo sob as caneleiras.
Tênue claridade rasgando-se lá pelas bandas do Sul.
Sobras de arco iris desfazendo transe . Metade agreste perdendo espaço .
Metade sensível é flor na janela.
Cozinha incensada à odor de café.
Marrecos e quero-queros, na cantilena,disputando a euforia do chão lavado.
Aragem fria entrando porta à dentro.Alguém , precipitado,profetizando:
-Geada,na certa,amanhã de manhã...
O que inda resta da “bugra” retrucando sobre a soleira:
-Que geada!...Que nada!..."Ipê florido é inverno banido".
[Atrás da porteira,além da estrada,o campo incendeia em tons de amarelo]
Temporal viajando nas asas do vento.
[Bonança!]
Com a leveza de campos umedecidos, velhinha aninhando-se aos familiares.
Chamas crepitando.
Ao redor do fogão de lenha , conversa rolando sôlta.
Além da janela...
Água limpinha, escorrendo mansa,segue sem rumo ou destino certo.
fotos do autor
COMENTÁRIOS
26/01/2012 15:05 - Ciro Fonseca
“...E quando vinham as tempestades,duas facetas daquela mulher conflitavam-se.Metade sensível:temia.A outra metade,admirava raios e trovões.”
"MEMÓRIAS DE VÓ MARIA"
Força de ventos batendo janelas
Balidos aflitos de cabras medrosas
Buscando refúgio na “casa do forno”
Cotovelo magrinho apoiado em soleira
Na concha das mãos irriquieto semblante
Um “não sei quê” balindo no peito
Buscando refúgio na aldeia da alma.
Núvens em paredão,coriscos,trovões...
Sobras de minuano rasgando coxilhas
Truculência selvagem varando araucárias
Braços franzinos lançando ao espaço
Soledades em campos de ventos varridos
Trinando lamentos de ninhos desfeitos
Num rasgo de brumas,curucacas em bando.
Preso à soleira, um vulto feminino
[ em transe]
Dividido:
Na metade sensível: fragilidade,temor...
Varando-lhe os cabelos: floradas de agosto.
Varando-lhe a alma : a visão dos pereirais.
Na porção agreste: admiração!
Varando-lhe o imaginário: florestas escuras,aldeias,turbilhões,danças ,pajelanças...
[Nunca vistas,jamais percorridas...]
Araigadas ,entretanto, ao sangue bugre latejando-lhe às veias.
Chuva caindo na tarde de agosto. Riacho bufando, cerca de arame,afogando em silêncio...encharcados gerânios ao redor da casa.
Pingos tamborinando...Pureza das águas benzendo telhados...
Bezerros lamentando aos berros o abandono barrento dos currais.
Vacas,agoniadas,respondendo sob as caneleiras.
Tênue claridade rasgando-se lá pelas bandas do Sul.
Sobras de arco iris desfazendo transe . Metade agreste perdendo espaço .
Metade sensível é flor na janela.
Cozinha incensada à odor de café.
Marrecos e quero-queros, na cantilena,disputando a euforia do chão lavado.
Aragem fria entrando porta à dentro.Alguém , precipitado,profetizando:
-Geada,na certa,amanhã de manhã...
O que inda resta da “bugra” retrucando sobre a soleira:
-Que geada!...Que nada!..."Ipê florido é inverno banido".
[Atrás da porteira,além da estrada,o campo incendeia em tons de amarelo]
Temporal viajando nas asas do vento.
[Bonança!]
Com a leveza de campos umedecidos, velhinha aninhando-se aos familiares.
Chamas crepitando.
Ao redor do fogão de lenha , conversa rolando sôlta.
Além da janela...
Água limpinha, escorrendo mansa,segue sem rumo ou destino certo.
fotos do autor
COMENTÁRIOS
26/01/2012 15:05 - Ciro Fonseca
Amigo Joel. Fico pensando se a minha crônica sobre a vó Cidó, não te inspirou esta prosa tão linda e perfeita na sua narrativa.Se foi o caso, envaideço-me! As fotos completam a narrativa tão clara que nos transporta para dentro do imaginário do teu rico cenário. Parabéns meu amigo!