"Balada na prisão"

Havia um grande gênio, um poeta

que vivia deslumbrando na orgia

acreditava saber tudo sobre o amor

e de festas e banquetes com a nobreza

da beleza universal pintava a musa

e da arte o seu o deus e redentor.

Desprezava as dores dos humildes

não sabia da existência de uma flor

recebia elogios de alguns sábios

era dono de um intelecto promissor

tinha muitos poderosos aos seus pés

nem sonhava ser um dia perdedor

A justiça lhe sorria à revelia

seu pedido de suborno era favor

mas a culpa que carrega todo homem

certo dia pela carne o condenou

os amores e amigos se afastaram

muito cedo, nem visita ele ganhou.

Conheceu na prisão a vilania

do sistema que ajudou a construir

do requinte, da riqueza do seu terno,

ao inferno sem roupa para se cobrir

se entregou à compaixão de um irmão

na desgraça aprendeu a dividir.