Prosa de areia





...e, de novo, a fronteira entre o mar arrebatado de lirismo e o místico deserto de silenciosos eus.




A mente, o silêncio, o agora, são em si a trajetória, sem palavra-ponte ou ponte-palavra, sem promessas....e assim, o escrever inscreve-se no cerne do silêncio. Paro de construir-me em dulcíssimas prisões. Os versos se desprendem e o lirismo das coisas começa a voltar para as coisas - a pedra é pedra e a pluma é pluma com a resumida simplicidade que discorreste sobre as impossibilidades. As minhas, são as palavras, pois que os dias sempre foram passíveis de sóis. Eu bem as conheço - de súbito, elas desaparecem numa magia muda, fechada numa mandala, como tuareg que verseja ventos num dialeto estranho e assim, volto para o deserto. Já conheço essas dunas a erigir-me em areia. São elas que tornam tátil e visível o improvável poema, a vida como inversa ao verso. Tua poesia, na trajetória, mesmo antiga, servirá a novos propósitos prenchendo folhas. A minha se tornará simples, simples, até se diluir no índigo do tecido amoroso que tinge de azul a minha pele depois, na escova gasta, na pasta de dentes, no café da manhã... no pó dos dias.