VIRANDO A MESA, OU, FAZENDO OUTRA HISTÓRIA

E a verdade foi apresentada

Ninguém dela duvidou

E todos em uníssono acusaram

E o coitado

Ao patíbulo foi levado.

Ninguém lamentou

Justiça se fez

E já na manhã dominical

Todos lotaram

A casa papal.

Para surpresa geral

Veio do vilarejo

Notícia mais que embasbacada

O culpado

Não era o que partiu em sumário

Mas o patrão

Que se escondera no armário.

E todos em uníssono gritaram:

"Mataram um inocente

Quem pagará por grosseiro erro,

Quem foi esse demente!"

E a viúva que tudo olhava

Nada disse, nem poderia,

Entrou para os afazeres,

Precisava cuidar da cria.

E a verdade foi apresenta

Ninguém nela acreditou

Aprenderam que nessa vida

Verdade não existe

E que quando o acusado é patrão

Todos defendem, mesmo se for ladrão.

E para aqueles

Que assim pensam

Vai um recado que se ouviu na gritaria

De lá se ouviu:

"Nóis é pobre, mas não porcaria"

E essa fala me causou tremenda emoção

Entendi que o povo ainda vai

Tomar o poder nas suas mãos.

E desde esse dia

Não faço outra coisa senão pensar

Quero estar vivo

Quando esse dia chegar!