PEQUENO TRATADO DAS DESIMPORTÂNCIAS
Quando eu crescer quero virar menino, desses que se dissolvem feito algodão doce. E ser bem menor por fora com crescimentos de dentro. Tão pequeno assim, feito silêncio de montanha altaneira. Quero ser grande de ocos, vazio de tudo, miúdo feito gota de sereno. Ser do tamanho de uma árvore que caiba dentro da menor metade de um grão de areia de uma minúscula enseada, no menor recanto do mundo. Ser um envelope de nada endereçado a lugar algum. Uma carta de silêncios, recheada de elipses.
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E no curto espaço entre o respirar de um segundo entre o outro, nesse breve momento em que um simples segundo faz durar uma eternidade, me espichar de pequeno e ser tão diminuto quanto a infinitude desse teu beijo que tem a pequenez e a granditude exata para me fazer feliz. Nem um milímetro a mais, nem um milímetro a menos. E se for medido com a régua da humildade quero alcançar o tamanho exato para caber desse jeito, inteirinho, completo, dentro de mim. Feito um grão de mostarda, um cisquinho de nada semeando tudo. Esperança, até. Quando eu for menino-criança quero ser grande assim. Tenho fé.