MENINO RANHENTO

Caminhando pela rua

Em plena noite fria

Vi menino ranhento...

Perguntei quem era ele,

Me respondeu,

Sou filho do vento!

Ao ouvir tal resposta

Em seus olhos eu perguntei

Cadê o vento?

E logo me respondeu:

Esposou-se da tempestade!

Com tamanha estranheza,

Perguntei...

Quem é ela?

Assombrou-me a resposta

Ao ouvir na voz pequena

Que a tempestade

O botou no mundo

E o abandonou a própria sorte...

Ó que dura realidade

Do menino ranhento,

Trás no nome o abandono

Por ser filho do vento

E ser parido da tempestade

Ao jogá-lo no relento...

Se fosse filho das pedras

Talvez tivesse onde aninhar-se.

Para passar as noites frias,

Em total calmaria,

Adormeceria em seus braços

Com a certeza de melhores dias...

Mas o menino ao afastar-se

De minha inquisição

Esticou na calçada

A ultima edição

Do jornal em circulação...

Que trazia em suas letras

Nas noticias do dia

Que o vento e a tempestade

Amedrontam a humanidade

Deixando tamanha desolação...

Que estranha ironia

O menino a agasalhar-se

Nos escritos do jornal

Que falava do vento

E da tempestade

Naquela noite fria...

E nas letras tingidas

Do jornal em edição,

Naquela noite fria

Estava o vento e a tempestade,

A agasalhar a sua cria.