A DITADURA DA FELICIDADE
Queimas de estoque no início do ano, e a felicidade está em promoção nas Casas Bahia. A felicidade não é mais a mesma de antes. Agora ela é assim, vendida como que para microondas, como que para consumo em massa, pronta em 3 minutos, lotando prateleiras de megastores. Cheia de conservantes, corantes, edulcorantes, para disfarçar a sua aparência rota, desbotada, amarga, lembrança do que já foi, um sorriso apenas, uma brincadeira de rua, de roda, entre amigos. De amiga desejável, nos tornamos prisioneiros dessa felicidade - neo-felicidade-, dessa ditatura da felicidade, em que ser feliz não é um prazer, é uma obrigação.
Pressão. Pressão está sob a máscara da felicidade. Tortura existe quando se olha no espelho, e se percebe que o modo como se vive não se enquadra no enlatado felicidade. Coma ISSO. Vista AQUILO. Comporte-se exatamente assim, porque é desse modo que pessoas felizes se comportam. Tenha ISSO. Como você consegue ser feliz sem ISSO? Tem que conhecer ESTES lugares. Tem que namorar os melhores caras, os que tem carros, e já são ricos. As garotas mais lindas. Você tem que trair quem ama. Fidelidade não é felicidade. Simplicidade não é felicidade. O simples, o viver simplesmente, o viver a vida levemente, dia após dia. Não.Tem que frequentar as baladas, e ainda ser absurdamente inteligente. Sim. Você é obrigado a ser absurdamente o mais intenso de tudo, o mais de tudo, violentamente o melhor em tudo, ou então você é lixo!
Repressão. A felicidade tem reprimido o que somos, e nos tranformado em seres ainda sem descrição. Missão a qual ficará incubida a teatralmente feliz futura geração.