A CIDADE DA VARANDA...
O domingo amanhece chovendo forte. Acordei mais cedo sob o som das águas que rolam ladeira abaixo. Da varanda tenho uma visão privilegiada. O jardim está florido, a variedade, o perfume e a beleza de tantas flores parecem sorrir e acolher o meu dia que mal acaba de começar. O quadro em minha volta, além do jardim, não poderia ser mais inspirador nessa manhã. São 05:ooh. Tudo é silêncio em minha volta, com exceção do canto da chuva. A cidade ainda dorme mergulhada em seus segredos, sonhos e mistérios. A manhã está bastante fria. Resisto em me despedir do agasalho. Adoro o frio, mas para ficar acordada e permanecer na varanda, não dar para vestir roupas leves. Puxo uma cadeira e me sento para tentar acordar de uma vez. Meus olhos ainda estão pesados de sono, pois na noite anterior padeci um pouco de insônia. Nada anormal, apenas coisa de quem pensa e sonha de mais, sintomas de quem vive mergulhada numa atmosfera de pensamentos viajantes, navegantes e ousados de mais. Depois decido-me levantar, faço alguns exercícios de alongamento, tomo um pouco de café bem quente e me sinto melhor, mais disposta. Através da cortina cinzenta da chuva que cai incessante e contínua, contemplo a emoldurada beleza das serras e a magnífica linha azul do horizonte. Aí, é hora de trabalhar! Minha alma pensante começa a questionar sobre a possibilidade de vida, de paz, de desdobramentos, de amores por lá, além do outro lado, bem distante... E nesse deslumbramento quase êxtase, solto meus pensamentos, libero meus sonhos amontoados, muitos inseguros, de pernas trôpegas e cheios de incertezas se um dia serão verdades ou se vão permanecer pela vida toda empacotados no armário de minha existência. Assim, permito à minha alma viajar para desbravar outros mundos, quem sabe, mais férteis, mais justos e de sentimentos e valores humanos bem mais profundos. Onde haja vida plena de belezas reais, sem aparências, nem superficialidades. Onde as crianças sejam amadas e cuidadas com respeito e igualdade. Onde ser jovem seja sinônimo de esperança, de construção, de investimento e de boas expectativas com relação ao futuro. Onde envelhecer signifique um processo natural e não uma fase de preconceitos e indignidades. Um mundo onde as idéias antagônicas, se não puderem caminhar lado a lado, possam ao menos conviver sem ódio e cultivando o respeito. Minha manhã prossegue lenta, entre a quietude e a calmaria das ruas. Não é possível ver qualquer movimento de pessoas num dia como esse. Em casa todos ainda dormem. Sozinha, aproveito para me entregar à possibilidade de voar para além do meu casulo. Penso em redefinir meus limites. Quem sabe, o tempo, de quem muitas vezes sou fugitiva, me aguarda desejando ser colhido. É hora de reinventar a vida. Novos projetos para um futuro breve estão à minha espera e eu embarco nessa expectativa de positividade. Enquanto o dia permanece obscuro, fechado pelas chuvas eu viajo para além de mim.
Isis Dumont
2012
O domingo amanhece chovendo forte. Acordei mais cedo sob o som das águas que rolam ladeira abaixo. Da varanda tenho uma visão privilegiada. O jardim está florido, a variedade, o perfume e a beleza de tantas flores parecem sorrir e acolher o meu dia que mal acaba de começar. O quadro em minha volta, além do jardim, não poderia ser mais inspirador nessa manhã. São 05:ooh. Tudo é silêncio em minha volta, com exceção do canto da chuva. A cidade ainda dorme mergulhada em seus segredos, sonhos e mistérios. A manhã está bastante fria. Resisto em me despedir do agasalho. Adoro o frio, mas para ficar acordada e permanecer na varanda, não dar para vestir roupas leves. Puxo uma cadeira e me sento para tentar acordar de uma vez. Meus olhos ainda estão pesados de sono, pois na noite anterior padeci um pouco de insônia. Nada anormal, apenas coisa de quem pensa e sonha de mais, sintomas de quem vive mergulhada numa atmosfera de pensamentos viajantes, navegantes e ousados de mais. Depois decido-me levantar, faço alguns exercícios de alongamento, tomo um pouco de café bem quente e me sinto melhor, mais disposta. Através da cortina cinzenta da chuva que cai incessante e contínua, contemplo a emoldurada beleza das serras e a magnífica linha azul do horizonte. Aí, é hora de trabalhar! Minha alma pensante começa a questionar sobre a possibilidade de vida, de paz, de desdobramentos, de amores por lá, além do outro lado, bem distante... E nesse deslumbramento quase êxtase, solto meus pensamentos, libero meus sonhos amontoados, muitos inseguros, de pernas trôpegas e cheios de incertezas se um dia serão verdades ou se vão permanecer pela vida toda empacotados no armário de minha existência. Assim, permito à minha alma viajar para desbravar outros mundos, quem sabe, mais férteis, mais justos e de sentimentos e valores humanos bem mais profundos. Onde haja vida plena de belezas reais, sem aparências, nem superficialidades. Onde as crianças sejam amadas e cuidadas com respeito e igualdade. Onde ser jovem seja sinônimo de esperança, de construção, de investimento e de boas expectativas com relação ao futuro. Onde envelhecer signifique um processo natural e não uma fase de preconceitos e indignidades. Um mundo onde as idéias antagônicas, se não puderem caminhar lado a lado, possam ao menos conviver sem ódio e cultivando o respeito. Minha manhã prossegue lenta, entre a quietude e a calmaria das ruas. Não é possível ver qualquer movimento de pessoas num dia como esse. Em casa todos ainda dormem. Sozinha, aproveito para me entregar à possibilidade de voar para além do meu casulo. Penso em redefinir meus limites. Quem sabe, o tempo, de quem muitas vezes sou fugitiva, me aguarda desejando ser colhido. É hora de reinventar a vida. Novos projetos para um futuro breve estão à minha espera e eu embarco nessa expectativa de positividade. Enquanto o dia permanece obscuro, fechado pelas chuvas eu viajo para além de mim.
Isis Dumont
2012