Um dia de tristeza

Não sei dizer ao certo o que significa um dia ou mais de tristeza. Algo que corta um pouco o ar e deixa-nos a mercê do destino. De todas as experiências da vida, seja a mais simples, algo se retira. Todas têm sua beleza e a tristeza tem a qualidade da grandiosidade porque ninguém se prepara.

Criamos momentos felizes, alegres, mas não criamos a tristeza em si, ninguém a planeja, ninguém a organiza, ninguém a convida. Mas ela não deixa de existir por isso e vem de todas as formas: repentinas, vagarosas, pequenas ou intensas. Deixa suas marcas e pode tornar-se alegria mais tarde.

Os dias tristes podem ter motivos aparentes e precisos. Mas tem dia que você não tem nenhum problema e encontra a tristeza dentro de si, porque as coisas do mundo não te preenchem por completo. Atrás de todo sorriso tem a dúvida. Atrás da minha felicidade tem a pergunta: por que eu estou feliz? Ser feliz sozinho nunca será verdadeiro, pois temos que aprender a nos importar mais com o que as outras pessoas estão sentindo e passando.

A tristeza para mim é serena, calma. Chega a ser linda, às vezes amiga, sem assustar. A natureza do homem é especial. Já imaginou se uma rosa mostrasse toda sua beleza sabendo que ia murchar e morrer. Ela tem no desconhecido sua natureza dotada de finitude ligeira. Tem pouco tempo para impressionar, para ser vista, para chamar atenção. Mas isso não diminui sua razão de ser.

Não é o tempo de vida que diminui a razão de nenhum ser. O homem trocou a certeza da finitude pela ingenuidade de fingir que não reconhece mais sua natureza frágil, sua sintonia com a terra, seu contato sagrado com o vento, com a água, com os outros animais. Deixou de lado a necessidade de se reconhecer no outro, de se ver, se projetar, se amar amando o outro.

Um dia de tristeza é assim – meio espetacular, singular, infalível na mudança do seu ser. A necessidade de compreender, de experimentar mais, enfatizar dia a dia a noção de passagem, de incompletude e de conhecimento de si. Assim é cada dia, que vivi desde a infância convidando para minha vida as alegrias, as festas, mas nunca se esquecendo de enxergar a tristeza contida em cada um.

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 20/01/2012
Reeditado em 27/01/2012
Código do texto: T3451763
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