Alma plástica tem o poeta

Alma plástica tem o poeta

É nas horas mais difíceis, naqueles momentos em que pensamos que tudo está perdido, que surge do nada, ou de um lugar desconhecido, de um nicho que até então não percebemos, como que um farol na escuridão, para um barco em rota de perigo, sobre uma via de grandes icebergs, uma idéia. É assim que vem a inspiração, ou mesmo um insite para um projeto novo. Escrever para alguns, pode parecer apenas um passa-tempo, um roby, algo que se faz para que a vida não seja assim tão miserável. Todavia, outro diz, escrevo para espantar a solidão. Há até mesmo poeta de fim de tarde, burocrata que disfarça a solidão de outro oficio. Há também os delinqüentes que dizem que fazem poemas por vício. Imaginem que falta de originalidade. Poeta não se fabrica por decreto, ou se destitui por ex oficio.

Para um poeta, que escreve pelo dom da herança, como alquimista, ou como nobre de dinastia épica, que não evoca sentimento alheio para produzir seu pão diário, ficar sem escrever é algo que lhe causa as piores angústias; e se isso lhe sobrevém, não é apenas falta de inspiração. Algo de muito tenebroso está para lhe acontecer. Entre os que convenceram, que mapearam seu universo entre tantos universos, nas galáxias da poesia não pararam de produzir nem mesmo na hora do desenlace, quando sabiam que tinha que partir para outros mares, mesmo assim ditaram para seus confessores suas últimas prosas, alguns com ironia para com a vida, outros para condenar a morte.

Escrevo por que minha vida é apenas uma contradição da natureza, não vim ao mundo para ser feliz ou para fazer feliz alguém, poeta não tem pátria, nem amores, filhos só os que ele próprio, e sozinho traz à luz. Onde estão nossos poetas vivos? Sabemos mais sobre os poetas depois que morrem, que deixam o mundo sensível. Não será assim comigo mesmo? Os pequenos poetas são vistos ainda vivos, e porque isso se dar? Pela sua enorme mediocridade, há até entre eles os magos, os senhores dos mistérios da tolice. Espero que pelo menos se passe dois séculos para que algum espírito descubra-me e que não faça alarde, espero mais um pouco. Não quero ouvir os fogos da popularidade, é preciso que meu corpo já tenha se desintegrado; levando em conta que o plástico leva 400 anos para se decompor, este seria o tempo ideal para que se lhe apresentasse ao mundo a alma plástica de um poeta veraz.

Portanto amigos, leitores e parentes, não tentem me canonizar, poeta não é santo, antes ser palhaço, mas, não quero nem uma coisa nem outra, melhor mesmo é fazer chorar a fazer rir.

Evan do Carmo Brasília 12/01/2007

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 12/01/2007
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T345012