A primeira vez




A primeira vez que li um poema, a minha alma saiu do seu esconderijo, arrancou a máscara pesada da vida (des) igual e, aos saltos, cantou esperança e quis sonhar.
A primeira vez que li um poema, quis aprender a falar. Quis lançar-me sobre as palavras, nelas mergulhar-me.
A primeira vez que li um poema,fui apresentada a mim; saudei-me, cantei, vibrei e festejei a minh'alma, a me sorrir.
A primeira vez que li um poema, descobri que nasci nesse sonho; que sou triste traço risonho, a marcar os olhos do meu tempo.
A primeira vez que li um poema, aprendi mais de mim e sobre mim. Rebusquei indagações antigas e as inquietações incontidas, reencontrei alegrias perdidas, reconheci a razão das minhas feridas, me percorri... ousei cantar.
A primeira vez que li um poema, imaginei-o, sim, falando sobre mim. E agarrei-o firme no peito, cantei-o dia inteiro e plantei-o, no meu jardim.
A primeira vez que li um poema, fez-se primavera, no meu coração. Jamais, contudo, imaginei, um dia, colhê-lo assim: pássaro azul de doces asas prateadas a, eternamente, voar, dentro de mim.
Otelice Soares
Enviado por Otelice Soares em 15/01/2012
Reeditado em 15/01/2012
Código do texto: T3442685