Desconexas e ao vento...
Hoje o dia está tão cinza, que eu gostaria de ser parte da natureza inanimada. Uma pedra, mais exatamente. Pedra não ouve. Pedra não fala. Pedra não vê. Pedra não sente. Se bem que mesmo nas pedras percebo as batidas do coração deste Cosmos que habitamos. Mesmo nelas percebo algo familiar, uma espécie de parentesco estranho e secreto.
E este cinza que vejo com meu espírito, flui das dores alheias, daqueles desamparados que se encontram nas cadeias, nas calçadas frias, nos sinais de trânsito, nos orfanatos e asilos, nos velórios, nos hospitais, nas favelas, nos campos de trabalho escravo ou em qualquer palmo de terra desta vida. É isso que este cinza está me sugerindo agora: tornar-me como cristal para evitar o escândalo das dores que há no mundo.
Mas, a despeito do apelo inesperado deste dia, prossigo como ser humano. Então, continuo ouvindo, vendo, falando, sentindo, percebendo e me escandalizando.