De uma conversa sobre a alma da mulher


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Alma!
Deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma
Superfície!
Alma!
Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão
Superfície!...
             Arnaldo Antunes



A parte de mim que mais ouve e sente observa e aprende com a alma humana que, vaidosamente, se pavoneia, se esmera em agradar, em marcar território.
No alto da arrogância de seus títulos e da nenhuma sabedoria dos anos bem vividos, segundo ela própria, volta e meia faz piada de e com mulher, imaginando que faz humor.
Ah, pobre alma soberba, que posso dizer eu, uma alma aprendiz? Apenas que viveu muito, mas não o suficiente para se vangloriar que conhece a alma e o coração de uma mulher!
Viveu mas nem de longe compreenderá nossas lágrimas de alegria ou nossos risos de puro nervosismo. Não faz ideia do que são nossos hormônios, nossos demônios, nem as razões do nosso romantismo ou da ferocidade do nosso instinto de fêmea e de mãe.
Viveu, mas o que sabe de verdade dos nossos mistérios dolorosos ou gozosos e dos nossos sonhos? Dos nossos medos e segredos?
Por que banaliza o que sentimos? Como e por que sentimos? Por que nivela e trata por igual o que na sua natureza é diferente?
Ah, soubesses do que somos capazes!Soubesses o que nos desafia, o que nos encanta e espanta!
Soubesses  ler nossos olhares, ouvir nossos silêncios, nossos suspiros e ais de amor!
Saberia, saberia sim que a compreensão da alma de uma mulher não se dá no varejo.Saberia que uma mulher não deixa sua alma transparecer a qualquer um ou de qualquer modo.Que apenas por entre os véus do amor sua alma se desvela e certamente não percebeu quando foi amado por alguma.
Ah, pobre alma que se tem em alta conta e que acha que viveu muito, torço que viva ainda mais e, corajosamente, permita-se aprender com a generosidade das nossas contradições.