MUTREITAS DE UM POLÍTICO
MUTREITAS DE UM POLÍTICO.
Autor: Jesualdo Alexandre Brbosa
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Numa manhã de Setembro
As quatro da madrugada
Lá na fazenda alvorada
Eu ia lá pro currá,
Já tinha mandado acordar
Toda a minha piãozada,
Me dirigia pra calçada
Pra fumar meu lasca peito
Quando chegou um sujeito
Por nome de Edimundo
Que parecia educado,
E disse seu Zé Raimundo!
Eu moro lá no fundão,
Trabalho com Zé de João
Lá do sítio alagado.
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Vim lhe trazer um recado
Que o meu patrão lhe mandou,
E eu disse por favor,
Eu sou todo bem ouvido,
Eu fiquuei logo incutido
Pra saber de que tratava,
E o sujeito exclamou,
Dizendo: seu Zé Raimundo
Zé de João mandou dizer
Pro Senhor se prepará
Purquê aqui vai chegar
Dumingo pela manhã
Direto da capitá
Um home num avião
Que vem só pra conversar
Cum o povo da região.
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E eu perguntei, o que é
Que um home da capitá
Vem fazer nesse lugar
Dirigindo um avião?
Será qui é só conversar
Com o povo da região?
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Agradeci ao sujeito
E mandei disapiá,
Depois chamei pra entrar,
Fumei outro lasca peito
E disse, fale a respeito
Do amigo Zé de João
Que relação ele tem
Com o home do avião
Que tá vindo presses lados
E porque vem dando volta
Lá pelo sítio alagado?
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E o sujeito falou:
Seu Zé Raimundo, eu não sei,
Se vou saber lhe explicar
Só sei qui ta cum seis mêis
Qui o home teve pur lá
É um cidadão educado,
Zé de João até achou
Qui é fiscal do estado.
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E quando o sol já raiva
O assunto era encerrado
A pinhãozada seguia
A caminho do roçado,
Tomei café com o sujeito
Fumei outro lasca peito
E fui pensar no recado.
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No Sábado pela manhã
Mandei matar dois garrotes,
Dez capão e dez capotes
Seis galinha e seis pirú,
Matei cinco caititu
Dez carneiro e oito patas,
Mandei matar duas vacas
Pra fazer ua churrascada,
Fiz três potes de qualhada,
Comprei dez caixas de azeite,
Dez quilos de bacalhau,
Noventa quilos de sal,
Trinta quilos de palmitos,
Inda matei dez cabritos.
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Depois mandei destocar
Cem hectares de terra
E com vinte moto-serra
Cortei mil coqueiro novo,
Mandei chamar o meu povo
Pra ajudar na retirada
E depois da terra virada
Eu fiz um campo de pouso.
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No Domingo as nove horas
Ouvi um ronco danado,
Corri cum meus convidados
Lá para o campo de pouso,
Reuni todo meu povo
Pra recepcionar
O home qui ia chegar
A bordo dum avião
Direto da capitã,
Apenas pra conversar
Cum o povo da região.
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Quando o home apariceu
Lá na porta da buléia
Ningém tinha nem idéia
Do qui ele vinha dizer,
Daí eu pude intender
Que Zé de João tava errado,
Quando achou que o cidadão
Era fiscal do estado.
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Assim qui o home desceu
De cima do avião
Foi logo beijando o chão,
Levantou e olhou em volta
Se aproximou doutra porta
Na traseira da aeronave,
Depois puxou uma trave
Que prendia um baú
Que tava imtupetado
De fogos caramuru.
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O home olhou para um lado
Deu sinal prum capatais
Qui chamou outro rapais
E disse, o chefe mandou
Qui suba lá na buleia
E pegue a pasta mais véia
Qui tá cheia de dinheiro
E foi aí qui eu achei
Qui home era um fazendeiro.
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E logo eu imaginei,
Se ele tiver pensando
Qui vai impressionar
Por ter vindo para cá
Dirigindo um avião,
Qui até bejou o chão,
Que tem grana pra dana,
Eu quero só que ele intenda
Que eu não vendo mia fazenda.
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O home se aproximou
Do meio da multidão
E gritou seu Zé de João!
Quem é o seu Zé Raimundo?
E Zé de João apontou,
Com a pala do boné
E disse seu Doutor Mota
Zé Raimundo é o cidadão
Que está de chapéu na mão
Perto do Jeep Toyota.
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O home foi se achegando
Pra perto da mia Toyota
E agora eu já sabia
Que o nome dele era Mota,
Ele se apresentou
Com o seu jeito educado
E disse muito obrigado
Pela sua recepção
Eu tô muito satisfeito,
Você devia ser Prefeito.
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Abri a porta do jeep
Pro Doutor Mota imbarcar
E levei pra se alojar
Lá na minha residência,
Ofirici assistência
Do jeito qui pude dar,
Mandei sentar no sofá
Seu Mota disse, qui nada,
Eu vou sentar na calçada!
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Ofirici ua cachaça,
Depois chamei pra armunçar,
Mais antes de começar
Lhe ofirici meladinha,
A mesa tava repleta
Do que a fazenda tinha,
Arroz, capote e galinha,
Caititu, bode e carneiro,
Leitoa criada in chiqueiro,
Pato e bacalhoada,
Sarapaté e panelada,
Tinha linguiça calabreza
E pra servir sobremesa
Tinha choriço e quaiada.
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Tinha farofa de fussura,
Tinha vaca no braseiro,
Tinha buchada de carneiro,
E queijo com rapadura
Tinha banana madura,
Vatapá e doce de leite,
Tinha batata no azeite,
Macarrão e feijão novo,
Seu Mota olhou para o povo,
Depois olhou pras pratadas,
Deu um cheiro nas buchadas
E depois sentou no chão,
Com uma cuié na mão
Falou, eu sou popular!
Portando vou aceitar
Apenas feijão com ovo.
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Logo depois do armoço
Seu Mota foi pra calçada,
Reuniu a meninada,
Beijou todas as crianças
Da mais limpa a mais melada,
Distribuiu mil cocada,
Distribuiu sesta básica,
Deu mil caixas de bulacha
E ainda pagou cachaça.
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Visitou o cemitério,
Ajuelhou-se nas tumbas,
Beijou uma catacumaba
Depois sentou-se num túmulo
E começou a chorá,
Disse, vou mandar pintar
Todos esses mausoléus
E distribuiu mil véus
Pras véias que estavam lá.
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Andou em lombo de burro,
Visitou os morador,
Dirigiu o meu trator,
Soltou todos os fuguetes,
Distribuiu mil sorvetes,
Deu dinheiro pros adultos,
Distribuiu 1000 charutos,
Deu relógio pros matutos,
Deu pirulito as crianças,
Deu mil reais prum sujeito,
E fumou meu lasca peito.
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A essa altura do dia
Eu já tava impaciente
Sem saber o que seu mota
Queria falar pra agente,
Então falei, seu Doutor!
O sinhô vem de tão longe
Dirigindo esse avião
Somente pra conversar
Com o povo da região?!
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Eu tou até otimista
Mais um pouco curioso,
Com a quantia de dinheiro
Qui o sinhô deu pro meu povo
Lhe ofici um banquete
Você quis feijão cum ovo.
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Beijou todas as crianças
Do asseado ao mais sujo,
Andou em lombo de burro,
Sentou na mia calçada,
E depois de muita peleja
Lhe ofirici sobremesa
Você só quis a quaida.
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Visitou meor morador,
Dirigiu o meu trator,
Distribuiu sestas básica,
Doou caixas de bolacha,
Pagou doses de cachaça,
Fumou do meu lasca peito,
Deu 1000 reais prum sujeito,
Visitou o cemitério,
Distribuiu mil sorvetes
E ainda soltou fuguetes.
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Cheguei até a cahar
Que o governo Federal
Deu o tiro inicial
Lhe mandando de avião
Pra acabar cum a fome
Aqui nessa região;
Por ser um assunto sério
Pensei que já fosse o Lula
Dando início ao fome zero.
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Quando eu parei de falar,
Doutor Mota, respondeu,
Dizendo assim, Zé Raimundo!
Eu vim presses fim de mundo
Porquê a seis mês atrás
Eu tive aqui presses lados
Visitando Zé de João
Lá no sítio Alagado.
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E o Zé de João me falou
Que aqui presses fins de mundo
Tinha um sinhô Zé Raimundo
Qui é um grande fazendeiro,
Qui pussui dez mil alqueiro,
Muito gado no curral;
Mas eu vim da capital
Com outra finalidade,
Com minha boa vontade,
Falar de igual para igual,
Que eu muito interssado
Em seu curral eleitoral.
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Quando seu Mota falou
Em curral eleitoral,
Foi aí qui eu intendi
Purquê vei da capital,
Trazendo no avião,
Um baú chei de fuguete,
Um isopor cum sorvete,
Cocada pra meninada,
Trocou sofá por calçada,
Só comeu feijão cum ovo,
Deu dinheiro para o povo,
Doou caixas de bolacha,
Pagou doses de cachaça,
Distribui sesta básica,
Dirigiu o meu trator,
Visitou meor morador,
Pegou minino cagado,
Andou no sítio alagado,
Deu dinheiro pros matutos,
Distribuiu mil charutos,
Deu pirulito as crianças,
Deu mil reais prum sujeito
E fumou meu lasca peito.
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É que seu Mota tinha vindo,
Lá do planalto central
A bordo dum avião
Direto da capital,
Apenas pra assegurar
Que aqui tinha um currá,
Mas não um curral de vacas
Mas de gado eleitoral,
Pois já no final da tarde
Seu Mota se declarou,
Dizendo sou candidato
A Deputado Ferderal.
Fim..