O VÔO DA POESIA
Abro minha janela, e num mero descuido, deixo escapar a poesia insone,pelas frestas escuras do final da madrugada.
Ingênua e despreparada, ela adentra e enfrenta a densa névoa do outono,para fluir seu canto nos poemas adversos da cidade enferma. Acredita que pode estar em todo e qualquer lugar.
-Pensa que tudo pode enfrentar!
Despede-se dos resquícios das estrelas, sorri para a lua já desbotada, e de mãos dadas aos primeiros e tímidos raios solares, sai para aquecer e iluminar a vida!
-A poesia, sempre acredita!
Após cumprimentar as heróicas flores que ainda sobrevivem às estações, viaja pelos becos escuros, desperta os cidadãos das calçadas, aquece e perfuma os corações das “damas da noite”,enfeita todas as solidões... ultrapassando todas as fronteiras do além mar...
-A poesia...nunca soube parar!
Abre as correntes do túnel do tempo, aonde tudo parece impossível,e desembarga a voz dos amantes, afônicos de saudade...
-Constata que não tem idade!
E após percorrer os âmagos da realidade, toda prosa ,em ínfimas frações de versos pobres, sem muita rima, a poesia enfim, desanima...
-Desiste da dura sina ...
Então, de volta à minha janela, a poesia fugidia,cabisbaixa e assustada, pede-me para voltar.
Prefere permanecer assim...detenta e amordaçada...mas viva...
-Dentro de mim.
SP,13/05/2006