Entre o céu e a terra

Caminho lento, sem destino,

numa tarde nublada e ameaçadora.

Chuvas fortes, torrenciais,

repletas de relâmpagos e trovões,

logo se iniciam, encharcando-me

e à terra.

Os ruídos da tempestade,

não os levo a sério,

pouco incomodam-me,

mas, o frio intenso,

que percorre-me o corpo,

desassossega-me o ser.

Minh'alma, de há muito entristecida,

passeia calada sobre a relva verde

das campinas da saudade.

Ao longe, a chaminé de um casebre

libera as grossas fumaças

de algo deliciosamente quente

feito no fogão a lenha.

Fosse uma refeição, imagino

como seria bom, se antes dela,

eu pudesse banhar-me em água quente

com espumas de sabonete

cheiroso e macio,

para em seguida saboreá-la

com o apetite de agora.

Sinto-me tão cansado, Senhor!

Meus lábios estão trêmulos e gélidos.

O frio adentra meu corpo e minh'alma.

Tirei os sapatos e carrego-os nas mãos.

É gostosa a sensação da grama macia

acariciando-me os pés exaustos.

Sigo divagando com um pingo de nexo,

sob os grossos pingos da chuva.

À exceção do frio que me invade,

não sinto nela outro incômodo,

ao contrário, faz-me lembrar

os meus tempos de criança,

quando nela brincava

e fazia peraltices.

Esforço-me e tento discernir

um ponto de equilíbrio

entre a missão e a razão.

Inútil. Não há equilíbrio.

Há simplesmente uma vida

para se viver.

E o meu amor?

Será que o tenho ainda dentro de mim?

Ou a muito foi tragado pelas enxurradas

da existência e afogou-se?

Talvez tenha temporariamente

se perdido na tempestade

das incertezas,

do abandono,

da descrença

ou da tristeza, quem sabe?

Meu coração sorri e diz que não.

Segreda-me ao ouvido, que ele reside

numa choupana dentro dele.

Aquecido e bem guardado!

Sinto-me tão cansado, Senhor!

Por favor, abrace-me forte, dê-me

um rumo e o seu amor paterno.

Jaime Rezende Mariquito
Enviado por Jaime Rezende Mariquito em 08/01/2012
Reeditado em 20/10/2013
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