Entre o céu e a terra
Caminho lento, sem destino,
numa tarde nublada e ameaçadora.
Chuvas fortes, torrenciais,
repletas de relâmpagos e trovões,
logo se iniciam, encharcando-me
e à terra.
Os ruídos da tempestade,
não os levo a sério,
pouco incomodam-me,
mas, o frio intenso,
que percorre-me o corpo,
desassossega-me o ser.
Minh'alma, de há muito entristecida,
passeia calada sobre a relva verde
das campinas da saudade.
Ao longe, a chaminé de um casebre
libera as grossas fumaças
de algo deliciosamente quente
feito no fogão a lenha.
Fosse uma refeição, imagino
como seria bom, se antes dela,
eu pudesse banhar-me em água quente
com espumas de sabonete
cheiroso e macio,
para em seguida saboreá-la
com o apetite de agora.
Sinto-me tão cansado, Senhor!
Meus lábios estão trêmulos e gélidos.
O frio adentra meu corpo e minh'alma.
Tirei os sapatos e carrego-os nas mãos.
É gostosa a sensação da grama macia
acariciando-me os pés exaustos.
Sigo divagando com um pingo de nexo,
sob os grossos pingos da chuva.
À exceção do frio que me invade,
não sinto nela outro incômodo,
ao contrário, faz-me lembrar
os meus tempos de criança,
quando nela brincava
e fazia peraltices.
Esforço-me e tento discernir
um ponto de equilíbrio
entre a missão e a razão.
Inútil. Não há equilíbrio.
Há simplesmente uma vida
para se viver.
E o meu amor?
Será que o tenho ainda dentro de mim?
Ou a muito foi tragado pelas enxurradas
da existência e afogou-se?
Talvez tenha temporariamente
se perdido na tempestade
das incertezas,
do abandono,
da descrença
ou da tristeza, quem sabe?
Meu coração sorri e diz que não.
Segreda-me ao ouvido, que ele reside
numa choupana dentro dele.
Aquecido e bem guardado!
Sinto-me tão cansado, Senhor!
Por favor, abrace-me forte, dê-me
um rumo e o seu amor paterno.