::: Ampulheta :::
O tempo passa por entre os dedos como a chuva que cai sem cessar. Levando os dias, as poeiras, os medos e a juventude que, de repente, envelhece. Tranformando o amanhã em hoje e o hoje em um passado chamado memória, apenas lembranças, tudo o que não volta mais. Cada segundo é apenas uma parte de mim que se vai e se aproxima bem mais do fim, do vácuo, do nada, da eternidade ou como você preferir.
E olho para trás e vejo que poderia ser diferente. Será que terei outras vidas para fazer o que não fiz? Ou falar o que ficou no silêncio de uma angústia? Sinceramente não acredito nisso. Quanto tempo ainda me resta? Sessenta, setenta anos? Ou apenas mais alguns dias e meses? Nunca saberei. O que há depois do tempo, depois da linha finita que mede a nossa existência aqui na terra? O que há depois dessa linha tênue entre vida e morte?
A eternidade nos espera, lá onde não há tempo. Onde não é preciso contar tudo pelos ponteiros de um relógio. E cada dia mais meu tempo se afunila, se acumula como os grãos de areia de uma ampulheta que descendo lentamente me mostram o óbvio. Um piscar de olhos e o tempo acabou.