APRENDIZ DO COSMOS

Eu monto meu cérebro com os restos dos tijlos cósmicos.

Faço versos com as lágrimas que sobram

como uma criança que tenta descobrir as cores.

Eu jogo letras num páinel numa lousa

como se fossem projéteis

Trato com fúria com afeto

Eu vivo a concretude como se fossem sonhos

Eu pinto quadros como ouço Wagner

Crio sonatas como vejo Cezane

Aí eu vejo que sou tão adulto

como as criaturinhas que se urinam e se lambuzam de chocolate.

Eu escrevo páginas e mais págins tão úmidas

e impregnadas de ansiedade

Jogo a argila sobre a taipa

para apagar a minha ira

para me reconciliar com meus desafetos

para apreciar as minhas teses que os críticos detestaram

e eu vejo amarelando no fundo de uma gaveta,

Para beijar a mulher que esqueci de admirar

e o mundo amou mais que eu.

Eu me dispo em um canto do meu quarto

e me vejo no espelho

dos olhos de minha amada

e não num vidro polido

Minhas rugas arrefecendo, não estou remoçando

No meu rosto não admirado pelas moças, pelas senhoras

Ou por minha virilidade que não sei onde anda.

Não contraceno contigo

Meu monólogo é um diálogo com o Cosmos

Que me diz tudo que não fui e serei.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 08/01/2012
Código do texto: T3429047
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