PARA LER ENSIMESMADO
O tempo roubado
Ninguém nos devolve
E não adianta reclamar
Se não perdemos tempo e ele voa
Não é a toa que pelos dedos a água escoa
É o molde que não tem cópia
Só há uma maneira de descolar a carne
Ou com os dentes ou com os vermes
Somos os passageiros
Que nunca alcançamos
O motorista condutor
Somente pagamos pro cobrador
A passagem sem sabermos
A hora em que vamos chegar
Se já não chegaste
Quando ainda nem saístes do mesmo lugar...
Quais mobílias pesadas que se arrasta
Em condescendência mútua
E a locomotiva é onde estamos
É lá que estamos presente...
Na cidade do agora
Nas casas passantes dos ponteiros
Estamos nos movendo à corda
Á corda acorda acordado
Um joguinho de dados
Na base da sorte ou do azar
Este é o nosso lar?
Então quer dizer
Que o tempo verdadeiro
É aquele tempo prensado
Que passa como um trator
Por cima da gente?
E nós é que pensávamos estarmos indo
A seu favor?
Quando na verdade
Nós somos quem alimentamos esta imensa
Caldeira de vapor movida à massa que o tempo amassa
Escravos, que horror!!!
O mundo é um relógio gigantesco
E nós suas pecinhas?
Engrenagens que se vão emperrando
Atrasando e quando param...
Desertaram-se deste frio lapidário
E o cuco imaginário voa?
Deixando suas penas
Embaladas sob a corrente do nada...
Passando o boi
Passa a boiada
Somos vermes na goiaba bichada
Voa pássaro saudade engaiolada...