O parque fazia um medonho silêncio
De uns passos tais que eu nunca dei
E sempre o mesmo olhar tristonho
Que ponho nas coisas que não esqueci
Ali onde andei, ali onde um dia sorri
Onde estive sentado com a felicidade futura
Sempre nas histórias de um tempo que nunca vivi
E era como se tudo fosse paisagem de esquecimento
Como se tudo fosse feito de coisas belas que nunca vi...
 
Uma moça distraída a olhar por entre as árvores
Folhas secas dançando com a música do vento
Crianças brincam na noite que ainda nem é
Casais de namorados beijam-se absortos
Gente que espera gente vir
Gente que conversa entre si
Gente que caminha com pressa
Gente que descansa antes de ir
E a lua que do alto ilumina tudo
Enquanto eu simplesmente passo...
 
Os ônibus parados engolem gente
E todo mundo olha para além de si mesmo
As luzes da padaria são sempre muito belas
A porta pesada simula como que uma fortaleza
Quase sempre há nada na caixa do correio
Subo vagarosamente os lances da escada
Como se retardasse sempre a chegada
Para não ter que logo partir
O gato sempre adivinha minha presença
Olho a casa como se me olhasse por dentro
E quando entro aqui eu saio do mundo
Esqueço as palavras do poema que vim pensando
Que reencontro quando tropeço no meu silêncio largado
E que num momento de distração e espanto,
Sento, sinto e escrevo como quem o pariu...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 05/01/2012
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3424085
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