O GRANDE TÉTRICO ESPETÁCULO

Sobre o cadafalso o condenado.

No meio da multidão, olhos observam

E não ignoram que a corda

Suspenderá mais um e depois outros.

À benção sacramental vem vestido com seu manto

Aquele que sem cerimônia e, nem tampouco piedade,

Fala às manhãs dominicais,

Em prédio guardado e reverenciado como casa do senhor,

O representante de forças celestiais.

Nada pode o populacho,

Não se atrevem à revolucionária tentativa

De se levantarem aos desmandos cometidos.

E calados observam aquele que sucumbirá.

Oh, já dizeis repetidas vezes

Que o pão não se rouba de casa papal,

Também não se opõe ao destino traçado

Porque dos céus chuvas de louvor

Cairão aos desprotegidos e enfermos seres.

Porém, também não se fala

Que é sobre a terra que se sofrem as injustiças,

É sobre ela que à mãe falta o leite salvador,

Ao agricultor a enxada falta e a terra não vinga semente

E multidões não saciaram a fome e sepulturas nascerão.

Oh, já dizes infinitas vezes

Que o reino será dos que têm fome de justiça,

Porém é nessa sina terrena

Que moribundos desfilam a magreza.

Já não mais nascerá o sol

Já não mais se terá a primavera

Já não mais o outono renovará a folhagem,

Só o frio penetrará à pele

E quando a aurora surgir

O esquife seguirá sua trilha.

No cadafalso o condenado

Para a multidão

Tétrico espetáculo apresentado

E o silêncio será ouvido, amém.