Notas sobre o Belo
A beleza está nas flores, a beleza está numa calçada; pode estar nos prédios, nas construções, numa roupa, no andar de alguém.
A Beleza pode estar em qualquer lugar: numa nuvem que dança solta no céu ou numa concha afundada na areia do mar. E de tão vasto que é o mundo e de pensar quão vasto é o universo.
A beleza irradia, explode! (em cores e tons) num breve toque com a ponta de meus dedos num lugar desconhecido, no cheiro de café, ou pela fria umidade de minha jaqueta num dia de garoa.
O Sol jorra sua beleza incandescente sobre minha pele. Então compreendo que a beleza canta como um fio de vapor transpirado, como um eterno transpirar: um transpirar por estar vivo:
Como os pássaros que acordam e piam no eterno amanhecer, pois o amanhecer é o constante movimento do Universo após se extinguir, como uma criança louvando as montanhas.
Então eu pude compreender que a beleza é o todo que é a beleza que está em toda parte;
Num poste sozinho na rua, num papel amassado, numa placa.
E se o todo é belo e quão belo são os homens e os animais, como eu posso louvar só aquilo que nasceu pela justiça da natureza? Como posso amar só o belo e justo?
Pois eu vos digo: ame o lixo, uma casca de laranja abandonada numa rua, um pedaço de plástico flutuando no mar, ame a sujeira da pele do mendigo, ame a cicatriz de um tuberculoso; as pernas tortas de um inválido, como varetas de uma pipa que voa nas mãos de uma criança, pois perante vossos olhos que são como o Sol a vida dança sutilmente dentro de cada coisa: de um copo... do catarro.. no combustível... na rede de pesca e no peixe sufocado... nos fios perdidos que correm de poste em poste e nos postes que parados tem a esperança de serem arvores em busca da primavera.
E quando virá a primavera da vida?
Pergunte a um objeto, a um pedaço de qualquer coisa, um resto de coisa alguma... os Gira-Sóis que não nasceram na Terra ou no peito de uma criança. E tudo que existe na Terra é divinamente belo, tudo que paira neste chão és perfeito, como o movimento é vida e a vida amor e o amor o divino. Então sei que posso amar, mas sobretudo amar um pedaço de isopor perdido na rua , que entupira algum bueiro e molhará meus pés.