Pássaros Invisíveis
Os pensamentos sempre turvos e eu a lamentar a vida,
Em solidão perfeita para elucubrações sentidas... Ou não!
Dentre as muitas que me vieram à mente lá estava, ela...
A minha estrela d’alva que se chamava... Chamava, chamou se!
Mas não ouvia! E o serrote da imensidão densa naquela meia,
Quase noite sem luar, era o que me perturbava e a branquela...
Com um lenço úmido, em silencio!
Gritava como um louco! Antonio José Martins Pessoa, vulgo...
Sou de Jerumenha! Sua voz ainda em meus ouvidos ecoa...
Sou Raimundo José Martins, dizia a outra, que era sempre a mesma
Voz! Quebrei o pote, quebrei o pote... Onde está meu algoz?! Agora?
E lá se vai mais um, ou dois para o Meduna! Estou louco! Irmãos,
Diziam os crentes no culto, oremos por estes desgraçados incultos!
E a igreja temerosa, em silencio!
Pensei em meu rio Parnaíba que corria ao lado feito água, antes,
Agora, escuro e fétido... Ah! Quanta mágoa desse povo infeliz...
Esgoto, esgoto, e mais sujeira infernal que se vai abaixo e arriba!
Macacos me mordam, Uiiii!! Viva a guariba! Oh! Meu rio Poty...
De águas mansas e traiçoeiras! Vejam lá está o cadáver! Outro.
Aquele era o Taiseco, vivia na Rua, morreu de desgosto! Abandono...
Cabisbaixos, tiravam o chapéu, em silencio!
Pulei, gritei mais e subi a serra, passo a passo... Descalço! Aí, dói...
Pedras, aço, folhas secas, flores murchas e a alucinação sem fim!
Cobras soltas no meio do capim e vi, ao longe, a mão a me acenar,
Corri, gritei, pulei, sofri para aquela mão alcançar... Quanto mais
Corria, tanto mais ela se afastava de mim! Lá no alto, branquinha...
Era uma nuvem naquela forma a me fazer sorrir, a comigo brincar.
Senti, parei e chorei, em silencio!
Árvores, bananeiras, mamoeiros... Nem era São João! Ah! O sítio
Do seu Venceslau! Vamos primo, não seja tão mau... Ajude-me
A subir no pé de caju! Pára de ficar aí só tocando birimbau...
Tum di qui Tum, Tum di qui Tum... Cruzes, o que é isto? Valei me!
Um pedaço de disco de vinil passando num espinho de tucum!
Vai te, sei lá! Ô assombração mal feita... O tempo passando e...
Os pássaros ao redor, em silencio!
Eu não acredito mais em nada! Sinto muito, que me perdoem
Os que ainda estão a acreditar. O mundo está virado ao avesso!
O que será? É pra amar, não odiar... É pra viver, não matar...
E a ética? Ética, quem é ela, é nova por aqui? Tô doido pra ir pra
Cama com ela... Não, não! Que corrupção! Escutem, estão sem ação!
Cegos guiando outros cegos, cuidado, um buraco! E caem todos...
Lá dentro, lodo, escuridão, em silencio!
Ó esperança que um dia morou por aqui, para onde te mudastes?
Inundações, latrocínios, desastres de todas as classes, tsunamis e
A vã glória da humanidade que não tem fim! Fama, fama, dinheiro,
Dinheiro, poder, poder, poder... Vai te pássaro da solidão, xô ilusão,
Nada vai mudar, a esperança é que já se mudou! E nos deixou mudos.
Olá, Zé ganância! Viva a arrogância! Palmas para todos os trapaceiros!
E os pobres mortais ouvindo... Em silencio!
Viva o Lázaro, não o que ressuscitou, o outro que pecou e foi perdoado! Das profundezas do inferno se salvou. E já está pregando pelas igrejas... Oh! Derretimento das geleiras dos pólos! Oh! Derretimento de minhas artérias, imploro aos quatro cantos dos meus pensamentos, glória, glória! Onde estás agora? Tirai me dessa agonia, desse sumiço da camada de ozônio da memória! Onde as andorinhas não pousam por falta de ar puro!
Só no espaço sideral, apenas, em silencio!
Lampejos em profusão em minha massa não mais cinzenta... Quem matou D.Quixote, foram os moinhos?! Por que o pequeno príncipe falava com uma serpente à beira de um poço no deserto? Isso é que é vagar em pensamentos lúgubres... Não me julguem perturbado, não, não! Mil vezes não! Só não creio mais nas criaturas que querem ser criadoras e estão destruindo a criação! E mais, tapar o sol com uma peneira... Dizendo que está tudo bem... Tudo é bom!
E Deus, no céu, meneando a cabeça... Em silencio!
Guerras e seus guerreiros! Sempre foi assim... E sempre será! Seremos os derradeiros a neste planeta habitar! Vem a fome, Sudão, chifre da áfrica, Nordeste do continente... Treze milhões, a morte é corrente e são seres viventes! E eu aqui pensando o que posso fazer por este povo sofrido... Onde estão os novos São Franciscos de Assis ou seja de onde for? As madres Teresas, nem Precisam ser de Caucutá!!? Viva o povo Brasileiro, que jogam comida fora!
Os famintos, olhos arregalados... Em silencio!
É carnaval, uh, uh, uh! É carnaval... Escola de samba vai, blocos vem... Milhões de reais pelo ralo da incompreensão e da falta de sensibilidade. Não, não! Isso não! O povo precisa de diversão... Me dá mais um milhão!! Ei, você aí... Emendas parlamentares, obras irregulares! Trovões, chuvas, relâmpagos e os incêndios públicos políticos a queimar mais outras vidas... De fome e de depressão!
Tu estás é com inveja, porque não tem uma boquinha dessa também! Deus, no céu...
Tendo que ter compaixão... Em silencio!
Zé pegado, assim está a proposta, errado é quem é honesto! Que diabos virou isso, foram se os padrões morais! Já era, já era tudo, eu não creio mais em nada. E os portais de uma velha civilização em ruínas me dizem: É o fim do mundo! Adormeço... Eu não mereço! Sei que é tudo uma visão seu Luis Dicosa, vixe! Viva o Zé de Lica! - Só se vai viver noutro mundo, porque já foi faz muito tempo!! Mortim da silva e não restam mais nem os ossos secos ou já esfarelados...
E os defuntos que o receberam... Em silencio!
Mas num tem pobrema não, mais uns cinqüenta ano e todos vão virar
Robôs... É o quê rapaz?! Minha nossa, diga isso não, valha me Deus!
É... Compadre, sabia não? Fi de Deus, nós, nós mermos, visse... Minino! Ai, ai, já era!! Adispois num adianta chorá e acendê vela pra São Borba Gato, não, Ôxente! Aqui se faiz e aqui se apaga... Num visse qui já inté discubriro otros pranetas, é pra modi nóis i morar, quando eles nos ispulsá!
A matutada toda ali ao redor... Em silencio!
Final do ano, último dia, uns nascendo e outros morrendo... E lá se vão outros milhões! Dinheiro em forma de brilhos e estouros fumacentos... Toneladas! Fogos, fogos e mais fogos! Qual é a graça? Amanhã será tudo a mesma coisa, nada mudará! Seu João, olha o rojão... E lá se foi sua mão! Cuidado, Zé Miúdo... TsssPôôôlllll, o coitado ficou surdo! Espera, solta não, olha a mulher... Tarde demais a pobrezinha ficou sem o pé! Sem contar vovó Ilda, que perdeu a vida...
E as estrelas no céu, sorrindo... Em silencio!
Ah! Os gansos voando em “V”... E a humanidade andando em “X”! Vamos zumbis ocidentais, precisamos confrontar os fantasmas orientais de todas as dinastias! Malhas para os véus, muros para Jerusalém oriental e coisa e tal... Vacas para adorar, serpentes para picar, sol para alumiar! Sagrados! Corações confusos, mentes abismadas, deuses fracassados! Nada novo tem. Lá vai, Lá vem... O Chiquinho com a mesma conversa de onça em cima do trem!
Os anjos apenas velam... Em silencio!
Que pintura, que quadro, Deus! Que universo eu vim parar! Planeta terra... Por que estou aqui, o que fazer aqui, mostrai me, me dê uma explicação! Ai meu coração... Vozes ao redor, olhos a me vigiar! Dia e noite sem parar. Big brother celestial! Nada lhe é oculto, então que vida é essa? Passos rotineiros, gestos cibernéticos, falsos converseiros, tristes beijoqueiros! Traidores... Na escuridão eu ouço apenas uma voz, a da minha cabeça em chamas...
E as labaredas ardendo... Em silencio!
Ao longe ouço uma música... Nestas horas todo mundo sempre ouve...
Histórias tristíssimas que eu mesmo já contei... Passo e no meu passo
Vou vivendo outras lembranças! Maria, Maurícia, Zélia, Neda, Sonia, Dinancy, vidas que não me pertenciam e amores que eu não ganhei! Sonhei que fossem ou um dia seriam, mas nunca aconteceu! Vou me embora, vou me embora... Leões e lobos devoradores em minha mente e mentem em rugidos infernais...
A natureza toda sofre... Em silencio!
Pesadelo que não se vai, nem para a direita, nem para a esquerda nesse vale da sombra da morte, que por sorte não verei mais! Nada! Nada alma nesse rio de águas claras... Caindo, saindo e indo pra Itapipoca, pro mar! Feitoria das extremas, Agricolandia de minhas entranhas e que me estranhas! Zé curica, Das Dôres que me pariu, ali na baixa, na casa de vovó Egídia... Viva mãe Pêda que me agarrou quando eu nasci e me deu a palmada prima!
Cheguei ao mundo na dor... Em silencio!
Passado um tempo, eu disse: Agora sim, estou livre, aleluia, glória! Até que enfim... Mas nada era verdade, a única verdade era que eu estava ali... Nú e montado em um camelo bravo e azulado! Quem pintou esse camelo? Gritei e esperei que alguém me acudisse... Sapos cururus, lagartos e calangos ao meu redor e uma dúzia de hienas a sorrir de mim... Ihihiii, ihihiii! Maldito chá alucinógeno! Palmas da platéia, palmas, mais palmas e palmas!...
E o teatro vazio, vazio... Em silencio!
Chorei, gritei, sofri amargamente o abandono do ano passado, do outro e do próximo... Sou mesmo o poeta da solidão, disse para mim mesmo e o eco... Repetiu um quatrilhão de vezes: solidão, lidão, dão, ão, ão, ão, ão, o, o, o, o... Foi quando pássaros invisíveis me tomaram pelo meio do coração bruscamente, E olhando fixo em meus ouvidos disseram: Acorde, acorde, já é alvorada celestial! Vamos, todos além túmulo o estão esperando... Oh, não! E eu, eu, eu... Morri?!
Nada disseram e caminhamos rumo à luz... Em silencio!
Poeta Camilo Martins
Aqui, hoje, 31.12. 2011
Último dia de 2011
Às 19 horas, em ponto!
Último poema do ano!