Insônia
As pálpebras pesadas dos olhos que não querem fechar. O tempo goteja na bacia da noite. Mas a noite é uma eternidade. Os minutos levam séculos para virar horas.
Lá fora, nenhum ruído, que não um carro ou outro ao longe. A chuva parou. Aqueles pingos grossos na janela, de alguma forma amorteciam-me os sentidos e embalavam-me o sono.
E a noite transcorre seca e silenciosa. Pequenos, loucos sonhos em que pululam ratos, seres e situações absurdas povoam os períodos miúdos de sonos entrecortados.
Sempre desejo tanto o silêncio. Agora quereria mais a bulha do dia, que me traria o não dormir com ação. Sair para a rua, tocar a vida. Aqui, no escuro deste quarto, na madrugada de horas mortas, é ela que toca o tempo, e este é que trará o amanhecer e o movimento. Interminável intermitência. Onde me levará? Quando?
Frequentes acordares fragmentam o tecido de meu sono. Minha noite é uma colcha de retalhos.
Vou para a cozinha. Talvez um chá com biscoitos ajudem a buscar o amanhecer.