MINERALIDADE

As águas sangram nas pedras cortantes.

Seu leito indócil precipita-se fero,

ferindo as escarpas lodosas e avermelhadas.

Ana é retirante nesse sítio que já não lhe cabe;

severina vida descascada nas bateias.

Ana! Nasceu simplesmente ana de jesus.

Mulher que se fez madalena,

cujo corpo salobro furtiva sonhos esqueléticos

sob trapos de vestes e catres de desconfortos.

Não teve outra vida. Não conheceu outra vida.

Só sabe os vários garimpos súbitos.

Se deu e se dá sempre pelos xibius

trazidos por mãos grosseiras,

mas ainda sonhadoras.

Assim vai tecendo sua vida sem remorsos,

ancorando-se nas várias biroscas cascalhentas,

até que tais mãos não depositem mais nas suas

os calhaus manchados e sem valia,

será tempo de lançar-lhe pedras de escárnio

pelo pouco que lhe resta de vida, de velhice, de viço

... e, quiçá!, de pecado.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 30/12/2011
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