O poeta tinha razão IV

"O poeta é a pimenta do planeta."

Subiu e desceu os degraus

do infinito devaneio de suas inspirações

nos dias mais normais de sua vã distração.

Porque o óbvio precisava ser dito,

o óbvio precisava ser declamado,

o óbvio queria ser repetido...

mesmo na ausência das singularidades,

ainda que só existissem as normalidades

que de tão triviais desfizeram sua ciranda...

Ainda assim o poeta tinha razão:

descansou entre as flores noturnas do sertão;

girou incessantemente em cirandas disparatadas;

chorou, lamentou, amaldiçoou os céus;

caiu diante da dissonância de suas próprias ilusões...

sorriu secretamente para o minuto transviado,

seguindo seus próprios passos em (des)caminhos,

sem nunca perder de vista a sua direção;

assaltou a meia-luz no instante do desvanecer;

do vinho provou seu travo de agonia,

singrou mares distantes e insolentes

de águas tão turvas quanto o seu ser.

Assim, sua alma conseguiu aperfeiçoar

no êxtase da História a se repetir

nos ciclos místicos do seu corpo a girar...

Sim, mais do que descer ao inferno

e expulsar os seus males,

elevou sua alma mais um degrau

no seu grande projeto de desconstrução da sua própria razão.

Leitora BNFS
Enviado por Leitora BNFS em 28/12/2011
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