O poeta tinha razão IV
"O poeta é a pimenta do planeta."
Subiu e desceu os degraus
do infinito devaneio de suas inspirações
nos dias mais normais de sua vã distração.
Porque o óbvio precisava ser dito,
o óbvio precisava ser declamado,
o óbvio queria ser repetido...
mesmo na ausência das singularidades,
ainda que só existissem as normalidades
que de tão triviais desfizeram sua ciranda...
Ainda assim o poeta tinha razão:
descansou entre as flores noturnas do sertão;
girou incessantemente em cirandas disparatadas;
chorou, lamentou, amaldiçoou os céus;
caiu diante da dissonância de suas próprias ilusões...
sorriu secretamente para o minuto transviado,
seguindo seus próprios passos em (des)caminhos,
sem nunca perder de vista a sua direção;
assaltou a meia-luz no instante do desvanecer;
do vinho provou seu travo de agonia,
singrou mares distantes e insolentes
de águas tão turvas quanto o seu ser.
Assim, sua alma conseguiu aperfeiçoar
no êxtase da História a se repetir
nos ciclos místicos do seu corpo a girar...
Sim, mais do que descer ao inferno
e expulsar os seus males,
elevou sua alma mais um degrau
no seu grande projeto de desconstrução da sua própria razão.