DESABAFO
Muito de nós homens
Feitos de carne, ossos e sangue
Temos uma única falange digital
Somos milhões em um infinitesimal ser.
Ser ou não ser já dizia um ser
O inferno são outros já dizia outro
Somos porcas entre parafusos
Um tentando se ajustar ao outro
É o que muitos chamam de almas gêmeas
Mais o que não falta é peça mal atracada ou perdida
Em tudo quanto é lugar neste ferro velho da vida
Inventamos um Deus-mito propaganda muito melhor do que
Ele nos inventou nesta bolha terrena
Somos as sementes de um criador incriado.
Sementes boas ou más entre raízes e cicatrizes
Umas eclodem outras explodem pela trovoada
Estamos aqui buscando a verdade
Num mundo de mentiras
Todo dia uma batalha colérica
Uma infernalia, um fio da navalha
A gente gargalha e o riso não mais apetece
Quero ser fluente somente na arte do amor
A roda gigante fica pequena quando a gente cresce
Quero a liberdade das mãos vazias
E não as algemas geladas das tardes frias
Um turbilhão de seres como reses
Se espremendo e se contorcendo
No abate da rotina carnificina da retina
Mas às vezes parando pra pensar
Acho que somos mentiras bem isoladas
Num mundo de verdades mal contadas.
A verdade e a mentira são pessoais
E intransferíveis em suas variáveis
São dois lados de uma mesma moeda
E de uma mesma vala que de nossas imundícies se resvala
Aquela que de fato você vê e narra
E a outra é aquela que de fato você vê e cala
É a mesma verdade vista por ângulos diferentes.
São frutos de uma mesma árvore
Mas com sementes que crescem de forma desordenada
Mais não deixam de serem verdes verdades
Umas possuem frutos muito doces e outras
Amargam como fel na neurite mental
No ápice tudo explode em dinamite
E para universos paralelos o céu não é o limite.