Carta à minha mãe
Hoje eu olhei na estante. E lá estava o livro com a história que costumava me contar. Lia-o entre batidas fortes de meu coração e expressões assustadas em minha face infantil. Mas ele sempre tinha um final feliz...
Hoje me olhei ao espelho e me senti tão sozinha... Senti saudade do seu sorriso a me afagar, do seu olhar que protegia, de suas mãos que acalentavam, de suas palavras que embalavam...
Hoje, novamente, tive medo ao dormir. Mas não tinha a sua presença ao meu lado e criança novamente me senti ao chamar pelo seu nome e pedir abrigo em seu peito...
...Sempre tive espaço em seus braços!
Hoje me lembrei do quanto você já me fez falta...
Lembrei-me dos seus cabelos em forma de cachos e toquei os meus, numa busca por assemelhar-me a você. Lembrei-me do quanto chorei no dia da sua partida e do quanto me revoltei por você ter me deixado...
...Eu ainda não entendia!
Sinto sua falta todos os dias, todos os segundos da minha vida, nesses quase dezessete anos desde sua partida.
Ainda sinto seu coração vibrante e seu sorriso largo de olhos de esmeralda..!
Invejo os que me precederam na partida e tiveram a oportunidade de com você poder estar. Almejo por sonhos que me levem para perto de você... Nem que seja por alguns segundos... Nem que eu acorde com uma leve sensação de seu abraço poder sentir.
Hoje, escutando meu filho chamar-me de “mãe”, emocionei-me...
Há quanto tempo não digo essa palavra em som alto, com uma resposta imediata..!
Não sou a melhor das mães, mas tento ser aquilo que você foi para mim nos quatorze anos em que tive o privilégio de conviver com você. Tento ser para ele o que seria – e foi – para mim.
Hoje, meu filho é meu melhor amigo. Compartilhamos sorrisos e confidências inusitadas e, quando olho em seus olhinhos, posso novamente sentir a sua presença mãe, pois ele é fruto do amor que começou em você.
Transformo minha saudade em sorrisos entremeados por lágrimas e, onde quer que você esteja, sempre será parte de mim...