[O Escuro Centro da Dor]

Sangro, eu bem sei que sangro.

Mas se não há sangue à vista,

então não é nada... e nada vale,

posso continuar a ser cobrado!

Afinal, não tem mesmo de valer nada!

[A piedade é desprezível, desumana, nojenta;

eu e o resto do mundo somos assim...]

Para ter pelo menos o silêncio alheio,

é preciso sangrar em corredeiras,

em bicas onde também se misture o suor,

canais por onde a dor escorra lentamente,

sem jamais achar saída - e que dor esta?!

Se eu soubesse, não doía sem jeito,

e quem sabe, eu até me curava...

Eu não quero nada, eu não preciso de nada,

só preciso escoar só... lentamente só,

enquanto forças tiver, enquanto puder me arrastar,

enquanto a falta de alimento me incomodar.

Mas enquanto sangro, eu queria silêncio,

e que ninguém me falasse nada,

pois eu sou eu só, contra o vento,

contra o ser, contra o tempo,

ninguém há de me tocar, nunca!

O grito do sangue que não está a vista

morre, solitário, no sal dos lábios...

Vem de um centro escuro de Dor,

brota de uma origem indecifrável,

e, sem obstáculos, apenas morre no ermo!

Eu... eu... ora... cada um com seu grito;

descobriu-se, afinal, que não há referenciais,

portanto, não há jeito, não existe o voltar:

cada um é insano à sua própria maneira!

Eu tenho a cara de todo homem,

eu sou todos, todos são como eu

que passo, anônimo, do outro lada rua,

ou sigo ao lado quem não pode me ver...

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[Desterro, 20 de dezembro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 26/12/2011
Reeditado em 26/12/2011
Código do texto: T3406680
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