AREIA, TESTEMUNHA.

Nossos castelos de areia enfeitados com sargaço

Sempre foram os mais bonitos

Na nossa infância, desinibidos

Passávamos as horas construindo, sem cansaço.

Você, a princesa que a bruxa aprisionou

Eu, o herói cavalgando as ondas

Derrubando muralhas inexpugnáveis, que sempre lhe salvou.

Adolescente a areia lhe incomodava,

Trazida pelo vendo no bronzeador se pregava,

O banho rápido e a reposição do creme

Que em minha mão, a sua pele macia massageava

Com o prazer de sentir as curvas generosas

Deliciosamente quentes e olorosas.

Eu te amo, escrito em relevo com areia e sargaço

Em ondas, o mar levou

Mas nosso compromisso selado num abraço

Nada, nem o tempo, apagou.

Nossas sombras projetadas na areia

Sua barriga grávida revelava

Tantas vezes, ela foi mostrada

Seguidamente, éramos dois, éramos três,

Éramos quatro, éramos cinco, éramos seis.

Nossas pegadas seguidas de pegadas pequeninas

Outros castelos, outras princesas

Nossas crianças, nossas filhas, nossas meninas

Que cresceram e foram fazer outros castelos

Muito além do horizonte, bem longe de nós

Deixando apenas a saudade atroz.

Incansável, o mar apagou todos os dias

As pegadas que deixávamos nas areias

Mesmo vacilantes, nossos velhos pés

Não deixaram de marcar nosso caminho.

A morte repentina parou seus passos

E estando longe do alcance dos meus braços

A lua hoje imprime na terra

Uma sombra solitária, que encerra

A imensa dor de caminhar sozinho.